Fórum Inclusão
11/02/2010
11/02/2010
Parte do artigo da professora Mey Van Munster da Universidade Federal de São Carlos sobre atividades recreativas, mas que podem ser usadas em aulas de educação física.
Mey Van MunsterLazer inclusivo
Uma vez que os valores e conteúdos culturais do lazer  não se diferenciam dos usuais, não é conveniente falar em "atividades  recreativas para a pessoa com deficiência", não apenas porque existem  diferentes tipos de deficiência (mental, física e sensorial) e diversos  níveis de envolvimento, mas porque as pessoas são diferentes! É  preferível falar em "atividades de recreação que incluam a pessoa com  deficiência", ou seja, que permitam a sua efetiva participação, pois as  atividades de recreação e de lazer também são as mesmas; o que muda são  as condições nas quais essas atividades chegam até a criança com  deficiência. 
O que deve variar são as estratégias e a metodologia  de ensino voltadas às necessidades de cada indivíduo, sendo necessárias  algumas adaptações que tornem possível a inclusão e o efetivo  envolvimento da pessoa com deficiência nas atividades propostas.
Dessa forma, se o profissional atuante deseja propor  uma atividade de pintura ao seu grupo, e entre as crianças existe uma  que apresenta deficiência motora, a qual, aparentemente, a impede de  realizar essa atividade, devem ser utilizadas estratégias de apoio, para  tornar essa atividade acessível a ela também. Nesse caso, se a criança  não consegue se juntar às demais no chão, basta convidar todas elas a  sentarem-se numa grande mesa. 
Talvez, em vez de uma folha de papel sulfite, o  profissional possa oferecer a ela um papel maior e mais grosso (como a  cartolina). Fixar essa cartolina sobre a mesa, com o uso de fita  adesiva, pode auxiliar bastante a quem não pode contar com o auxílio  total das mãos. Pode ser que o profissional precise oferecer um pincel  mais grosso à referida criança, pois, assim, sua preensão se torna mais  fácil, ou, ainda, que seja necessário fixar o pincel à mão da criança  envolvendo-a com uma faixa. Ou, quem sabe, essa criança prefira segurar o  pincel com a boca e os dentes... Como se pode perceber, embora simples,  tais adaptações permitem a participação da criança e, por isso mesmo,  fazem a diferença!
Não existe uma "bula" para a indicação ou prescrição  das atividades recreativas a pessoas com essa ou aquela deficiência. O  que temos é um processo contínuo de descobertas, por meio de tentativas e  aprimoramento, de qual será a melhor forma de orientação para a  atividade, quais serão as adaptações necessárias com relação ao material  e/ou espaço físico, ou se a mudança de regras, de alguma forma, pode  colaborar no sentido de garantir o envolvimento dessa criança nas  atividades de recreação e de lazer. Estas são algumas etapas do processo  de adaptação de atividades de recreação e de lazer às necessidades e  interesses da pessoa com deficiência.
Cuidados e adaptações metodológicas
Alguns cuidados e dicas gerais podem contribuir para o  bom andamento do programa, tais como: incentivar a autonomia e  independência da pessoa com deficiência, evitando superproteção;  posicionar os participantes com maior e menor nível de comprometimento  intercaladamente durante a realização das atividades; oferecer quantas  chances forem necessárias; elogiar as tentativas que realmente expressam  o esforço do aluno.
A seguir será apresentada uma síntese superficial de  alguns cuidados e adaptações metodológicas que devem ser considerados  durante o planejamento, elaboração e aplicação de um programa de  atividades recreativas e de lazer inclusivo. Faz-se necessário reforçar  que a consulta ao quadro a seguir serve apenas como referência. Durante a  fase de planejamento, é essencial que o profissional iniciante procure  trocar idéias com outros profissionais que já tenham atuado junto à  clientela em questão, ou que já possuam alguma experiência na área.
Propostas de atividades
Antes de apresentar algumas sugestões de atividades  de recreação e de lazer, na perspectiva de inclusão da pessoa com  deficiência, tornam-se necessárias algumas considerações. Embora as  atividades descritas já tenham sido experimentadas com diferentes  grupos, de diferentes faixas etárias e condições variadas, vale  ressaltar que a escolha do momento oportuno e a adequação da atividade  ao grupo ficam a critério do bom senso profissional, assim como a adesão  por parte do grupo à atividade está diretamente relacionada à motivação  impressa pelo profissional responsável.
As atividades a seguir selecionadas estão  direcionadas a um público infantil com faixa etária entre 7 e 12 anos,  independentemente da deficiência apresentada. Conforme a atividade,  varia também a necessidade de adaptações quanto à instrução, materiais,  espaço físico e regras. Todavia, pode ser necessário proceder a mais  alguns ajustes ou adaptações, conforme as situações específicas.
Animais e Cia
Indicação: Recomendada aos momentos em que é  necessária a divisão dos participantes em subgrupos. A divisão de forma  lúdica e aleatória evita a formação das tradicionais "panelinhas" e,  sobretudo, evita a exposição e o constrangimento de indivíduos que  sempre são os últimos a serem escolhidos por seus colegas.
Objetivo da atividade: Procurar os animais da mesma "família" e reunir-se com eles.
Material necessário: 
- Vendas para os olhos.
- Desenhos ou figuras de diferentes animais.
Desenvolvimento: O animador solicita aos  participantes que se disponham em círculo. A partir do conhecimento do  número de equipes que deseja formar, define mentalmente quantos tipos de  animais serão envolvidos na brincadeira. Exemplo: se é necessária a  divisão do grupo em 4 equipes, deverão ser escolhidos 4 animais, como  cachorro, galinha, vaca e gato. O animador solicita aos participantes  que não revelem o nome do animal, e vai dizendo no ouvido de cada um o  nome de um dos quatro animais previamente selecionados por ele. Depois  de informar confidencialmente a cada participante o nome de seu  respectivo animal, solicita a todos que tentem localizar os animais da  mesma "família". O animador esclarece que não é permitido comunicar-se  por palavras, apenas utilizando sons e gestos, para representar os  animais. Outro detalhe é que os participantes deverão permanecer com os  olhos fechados durante a procura por seus companheiros.
Adaptações necessárias:
- Materiais: Para auxiliar a participação de crianças  com deficiência física, que muitas vezes têm dificuldade de controlar o  tônus muscular e a permanência espontânea com os olhos fechados,  sugerimos o uso de vendas para os olhos. As crianças com baixa visão, ou  seja, que possuem certa visão remanescente, também devem ser  encorajadas a usar as vendas.
- Instrução: Para facilitar a compreensão da  atividade por parte das crianças surdas, convém utilizar desenhos ou  figuras dos animais. 
- Regras: Estas últimas podem permanecer com os olhos  abertos, uma vez que não conseguirão aproveitar-se da discriminação  auditiva para identificar seus semelhantes.
Sugestões: O animador deve atribuir os nomes dos  animais às crianças, conforme as capacidades e habilidades de cada uma.  Por exemplo: caso uma das crianças seja paraplégica (classificação de  deficiência física provocada por paralisia dos membros inferiores) e  possua condições de se arrastar pelo chão com auxílio do tronco e  membros superiores, o animal determinado a ela poderia ser uma "cobra".  Nesse caso, seria necessária mais uma adaptação material: o uso de  colchões no espaço físico, para que a criança tenha liberdade de  rastejar sem se machucar.
Comentários: A permanência com os olhos fechados  estimula a utilização de outros órgãos sensoriais, contribuindo para a  ampliação da percepção do ambiente. Essa atividade também incentiva a  expressão corporal e favorece as habilidades de comunicação  interpessoal.
Tato Con-tato
Indicação: Essa atividade proporciona a possibilidade  de experimentação de novos modelos e estimula a capacidade de  ajustamento e adaptação a novos padrões, contribuindo para o processo de  aceitação das diferenças.
Objetivo da atividade: Compor e trabalhar esculturas corporais.
Material necessário: Vendas para os olhos.
Desenvolvimento: Os participantes serão divididos em  trios: um será o "escultor", outro será a "imagem" ou o modelo e o  terceiro será o "bloco de mármore" ou a matéria prima a ser trabalhada.  Após a definição dos papéis, o animador solicita a todos os  participantes que fechem os olhos. Aqueles que desejarem poderão  utilizar vendas. A "imagem", então, cria e assume determinada pose,  permanecendo imóvel, como se fosse uma estátua. O "escultor" toca a  imagem com as mãos, tentando percebê-la em todos os seus detalhes  (posição, postura, expressão facial etc.) e, em seguida, tenta passar ao  "bloco de mármore" a "imagem" percebida, por meio do tato e do contato.  O "bloco de mármore", por sua vez, deve tentar permanecer na posição  determinada pelo "escultor". Ao concluir a obra, o "escultor" comunica  aos demais, quando, então, todos podem abrir os olhos e comentar a  experiência. 
Adaptações necessárias:
- Instrução: Depois de concluída a escultura, é  importante que a pessoa com deficiência visual receba um feed-back,  baseado em descrição verbal, para facilitar a compreensão dos  comentários e comparações entre a "imagem" e o "bloco de mármore".
Sugestões: Para tornar a atividade mais relaxante, pode ser utilizada uma suave música de fundo.
Comentários: Essa atividade consiste na adaptação de  um jogo cooperativo proposto por Brotto (2000), e não exige grandes  adaptações. É uma atividade que estimula a concentração e amplia a  percepção tátil. 
Brincando de Massinha
Indicação: Atividade sugerida para ser desenvolvida  em ambientes domésticos ou em dias de chuva. Crianças mais novas (a  partir de 3 anos) também podem se divertir com essa brincadeira!
Objetivo da atividade: Brincar com massa de modelagem produzida artesanalmente.
Material e ingredientes necessários: 
- 1 bacia de plástico de tamanho médio;
- 3 copos de farinha de trigo;
- 1 copo de sal refinado;
- 1 colher (sopa) de óleo vegetal;
- 1 copo de água filtrada (250 ml);
- 1 pacote de suco em pó. Recomenda-se o sabor de  laranja ou uva para garantir um colorido atraente. Importante que o suco  em pó não contenha adição de açúcar ou adoçante.
Desenvolvimento: Colocar a farinha de trigo e o sal  na bacia, misturando os ingredientes secos. Adicionar uma colher de sopa  de óleo e misturar bem. Diluir o suco em pó no copo com água filtrada e  despejá-lo aos poucos sobre a mistura de farinha, sal e óleo. Em  determinado momento, será necessário utilizar as mãos para misturar os  ingredientes, até obter uma massa homogênea. Para ser reutilizada, a  massinha pode ser colocada dentro de um saco plástico e guardada na  geladeira, chegando a durar, aproximadamente, 1 semana. 
Adaptações necessárias: Nenhuma.
Sugestões: Deixar que as próprias crianças preparem a  massinha, dosando e adicionando os ingredientes necessários.  Incentivá-las a explorar e experimentar o sabor do sal, o gosto do suco e  da massinha. Fazer diversas cores de massinha e incentivar a confecção  de diferentes objetos e formas.
Comentários: Além de exigir noções de quantidade e  conceitos espaciais envolvidos na confecção da massinha, a modelagem  favorece a criatividade, o desenvolvimento de habilidades manuais e a  expressão artística. O preparo da massinha pode ser inserido dentro de  um contexto simbólico, como uma brincadeira de casinha ou coisas do  gênero.
Na boquinha da garrafa
Indicação: Atividade que depende, basicamente, da  cooperação entre todos os participantes para a superação do desafio  coletivamente. Recomendada para ressaltar a importância do trabalho em  equipe, podendo ser aplicada a grupos de jovens, adultos e idosos.
Objetivo da atividade: Conseguir introduzir a caneta pendurada num barbante através do gargalo de uma garrafa.
Material necessário:
- 1 rolo de barbante;
- 1 caneta;
- 1 tesoura;
- 1 garrafa plástica vazia;
- 1 jarra de plástico vazia.
Desenvolvimento: O animador solicita aos  participantes que dêem as mãos e formem um círculo. Em seguida, pede a  um dos participantes que segure a ponta do barbante com as duas mãos  (fechadas e com as palmas voltadas para baixo). O animador vai  desenrolando o barbante no sentido horário e solicitando a cada criança  que o segure da mesma forma que a anterior. Depois de formar um círculo  completo de barbante, segurado e mantido por todas as crianças na altura  da cintura, o animador une as duas pontas do barbante com um nó, e  continua trançando o barbante, agora em diferentes sentidos e direções,  como se estivesse tecendo uma "teia de aranha". O barbante deve se  cruzar algumas vezes no centro do círculo, onde deverá ser pendurada uma  caneta presa a um pedaço de barbante de aproximadamente 50 cm de  comprimento. O animador posiciona a garrafa plástica no centro do  círculo, e solicita a todos que tentem introduzir a caneta no gargalo da  garrafa. Para isso, todos deverão coordenar e sincronizar os  movimentos, de forma a conseguir alcançar o objetivo.
Adaptações necessárias:
- Materiais: Caso o grupo tenha dificuldade de  coordenar os movimentos e esteja muito difícil enfiar a caneta no  gargalo da garrafa, o animador deve substituir a garrafa inicial por  outra com o gargalo maior ou, se necessário, utilizar uma jarra com a  boca larga. Dessa forma, fica mais fácil conseguir realizar a atividade  proposta.
- Regras: Caso a atividade esteja sendo realizada com  facilidade pelo grupo, o animador pode estipular um tempo menor para  que o grupo consiga atingir o objetivo.
Sugestões: O animador pode sugerir algumas variações  para aumentar o desafio, tais como: mudar a garrafa de lugar; solicitar a  todos que segurem o barbante posicionando-se de costas para o círculo;  sugerir que todos tentem realizar a atividade em silêncio; solicitar a  todos que fechem os olhos e que se deixem orientar apenas por um dos  participantes, que estará de olhos abertos. 
Comentários: Essa atividade reforça a importância da cooperação em torno de um desafio comum. Além disso, exige concentração e habilidades relacionadas à coordenação motora fina. É possível, ainda, observar a iniciativa e capacidade de liderança entre os participantes.
Comentários: Essa atividade reforça a importância da cooperação em torno de um desafio comum. Além disso, exige concentração e habilidades relacionadas à coordenação motora fina. É possível, ainda, observar a iniciativa e capacidade de liderança entre os participantes.
Golbol
Indicação: O golbol é uma modalidade esportiva  concebida especialmente para permitir a participação de pessoas com  deficiência visual. Como todos os participantes são incentivados a  utilizar vendas nos olhos, qualquer pessoa pode ser incluída nesse jogo.
Objetivo da atividade: Fazer com que a bola ultrapasse a linha de fundo do campo do time adversário.
Material necessário: 
- 6 vendas para os olhos;
- 2 rolos de fita adesiva (5 cm de largura);
- 1 rolo de barbante ou corda de varal;
- 1 bola com guizos;
- 1 apito;
- 6 pares de joelheiras e cotoveleiras.
Desenvolvimento: O animador deve preparar o espaço  físico previamente, conforme descrito no item seguinte. As dimensões da  quadra de golbol são proporcionais à quadra de voleibol (9 x 18 m). Cada  equipe é composta por 3 jogadores, devidamente equipados e posicionados  cerca de 2 m antes da linha de fundo de seu campo, observando as  demarcações táteis na quadra. Sorteia-se a posse de bola, a qual contém  um guizo em seu interior, e um dos times começa atacando. Um dos 3  jogadores da equipe "A" arremessa a bola à frente, em direção à linha de  fundo da equipe adversária. A bola deve ser lançada como uma bola de  boliche, em trajetória rasteira ao solo. Os jogadores da equipe "B",  orientados pelo som da bola, devem tentar bloquear a passagem da bola  com o seu corpo, impedindo que a equipe "A" marque gol. A cada gol  realizado, é marcado um ponto. Em caso de defesa, a equipe recupera a  posse de bola e realiza o contra-ataque. Quando a bola sai da quadra  pelas linhas laterais, o árbitro concede a posse de bola à equipe em  situação defensiva.
Adaptações necessárias:
- Espaço Físico: Para favorecer a orientação espacial  dos participantes (que estarão vendados e não poderão contar com o  auxílio da visão), a quadra deve ser demarcada com barbante e fita crepe  em toda a sua extensão. A fita adesiva é colocada sobre o barbante  esticado em todo o comprimento da linha demarcatória, para permitir a  orientação tátil-espacial pelo relevo resultante dessa operação.
- Materiais: A bola de golbol é pesada e tem o  tamanho aproximado de uma bola de basquetebol. Os guizos em seu interior  favorecem a sua localização enquanto ela está em movimento. Como é um  material difícil de ser encontrado no Brasil, é possível improvisar  envolvendo uma bola de futebol de campo em papel celofane ou sacos  plásticos, fixados com fita crepe. É preciso que o saco plástico seja  "barulhento", como aqueles distribuídos em supermercados.
- Regras: Ao observar que uma mesma criança realiza  vários arremessos consecutivos e, conseqüentemente, priva as demais da  oportunidade de arremessar, o animador pode acrescentar uma regra em que  seja proibida a realização de dois passes consecutivos pela mesma  pessoa, ou que incentive a troca de passes entre todas as pessoas do  time. 
- Instrução: A criança com surdez também deverá  utilizar a venda. Como ela não pode se orientar prioritariamente pelo  sentido auditivo para localizar o som da bola, o animador solicitará a  uma quarta criança (sem os olhos vendados) que se posicione atrás da  criança surda e indique, por meio de um toque no ombro direito ou  esquerdo dela, a direção da trajetória da bola. Dependendo do nível de  comprometimento motor, crianças com deficiência física poderão  participar do jogo, desde que posicionadas sobre uma fina placa de  espuma para proteção.
Sugestões: É interessante convidar crianças sem  deficiência a participar dessa atividade, pois, por meio do uso da  venda, essa atividade permite a experiência de se colocar, por alguns  minutos, no lugar do outro. 
Comentários: Como muitos outros jogos derivados de  modalidades esportivas, o golbol é uma atividade que envolve a  competição. Quando adequadamente conduzido pelo animador ou técnico,  esse elemento pode proporcionar um alto grau de motivação aos  participantes.

 
 
Ótimo artigo, me ajudou bastante. Obrigado!
ResponderExcluirExcelente !
ResponderExcluirMuito bom
ResponderExcluirÓtimo artigo parabéns!
ResponderExcluirexcelente post para nos inspirar no colegio zona norte sp
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