terça-feira, 13 de novembro de 2018

Exercícios para estimular a linguagem, cognição e memória da criança com síndrome de Down



Exercícios para estimular a linguagem, cognição e memória da criança com síndrome de Down


Estimular a criança com síndrome de Down desde cedo é essencial para o seu desenvolvimento, por isso ela precisa de mais tempo da família e de especialistas para adquirir e aprimorar as suas habilidades. Uma boa estimulação realizada nos primeiros anos de vida pode ser determinante para a aquisição de capacidades em diversos aspectos além dos físicos, como desenvolvimento motor, mas também de comunicação e cognição. O Movimento Down separou para você 9 exercícios super bacanas para ajudar a estimular a linguagem, cognição e memória da criança com síndrome de Down.
1) Esconda-se ou esconda objetos (“cadê? achou!”) para que o bebê desenvolva este tipo de memória: “não vejo o objeto, mas sei que ele está ali”. Esta função cognitiva é importante para que, mais tarde, ele possa relacionar cada objeto ao seu nome.
2) Dê nomes a pessoas e objetos e incentive o bebê a observá-los ao mesmo tempo em que você olha para eles. Essa capacidade, chamada de referente ocular, é essencial para o desenvolvimento da linguagem. É um modo natural de aumentar o vocabulário da criança, fazendo com que ela descubra o nome das pessoas e das coisas.
3) Os gestos também ajudam na construção da linguagem. Eles facilitam a compreensão da criança e aumentam a eficiência da comunicação. Com o tempo, eles serão substituídos por palavras.
4) Tenha em mente que, para a criança com síndrome de Down, o que é só ouvido pode ser facilmente esquecido e o que é visto tem mais chance de ser lembrado. Por isso, quando ela tiver capacidade é interessante a utilização de fotos, desenhos ou figuras para que ela possa memorizar o que aprendeu ou vivenciou.
5) Brinque de executar ordens simples: buscar o sapato da mamãe, chamar o papai na sala, colocar a mamadeira*  em cima da mesa, acender a luz, fechar a porta. Aos poucos, invertem-se os papeis e a criança também pode ser aquela que brinca de dar as ordens.
6) Olhe livros e revistas e vá apontando e nomeando figuras para a criança. É outro modo agradável de aumentar seu vocabulário.
7) Produza junto com a criança uma caixa que contenha objetos cujos nomes ela já entende bem. Eventualmente, peça que ela vá até a caixa, pegue determinado objeto e o traga. No dia seguinte, peça dois objetos e vá aumentando aos poucos.
8) Outra opção é preparar uma “caixa de surpresas”. Use uma caixa de sapato fechada com abertura suficiente para que a criança coloque a mão. Ponha pequenos objetos na caixa e peça para a criança retirá-los e nomeá-los.
9) Leve a criança a solucionar pequenos “problemas”: deixe objetos cobertos ou atados por um fio para que ela descubra um modo de alcançá-los. Sirva a todos na mesa e deixe que ela demonstre que você a “esqueceu”. Vista só um sapato. Entregue a mamadeira* vazia. São pequenas atitudes que vão fazer com que ela desenvolva a iniciativa e resolva a questão.

segunda-feira, 26 de março de 2018

SÍNDROME DE ASPERGER – Guia para Pais e Professores


SÍNDROME DE ASPERGER – Guia para Pais e Professores


Capítulo 1: Diagnóstico
Descrita inicialmente em 1944 pelo pediatra vienense Hans Asperger como forma de desordem da personalidade, com reconhecimento internacional na década de 90, a Síndrome de Asperger refere-se a crianças aparentemente normais, com habilidade intelectual normal, mas que não parecem capazes de entender as outras pessoas num nível esperado para sua idade.
Características clínicas principais:
·                     Falta de empatia
·                     Interação social imprópria, falta de reciprocidade, ingenuidade.
·                     Pouca habilidade para fazer amigos
·                     Fala repetitiva ou pedante
·                     Pobre comunicação não verbal
·                     Interesse intenso em certos assuntos
·                     Pobre coordenação motora
Diagnóstico:
1.             Uso de escalas padronizadas.
2.           Avaliação dos aspectos específicos das habilidades sociais, cognitivas, de linguagem, de movimentos e também aspectos qualitativos dos interesses da criança. Inclui uso dos testes psicológicos usuais, história do desenvolvimento e comportamento, observação dos professores e exclusão de diagnósticos diferenciais.
Média da idade do diagnóstico: 8 anos.
Caminhos para o diagnóstico:
1.            Diagnóstico de autismo nos primeiros anos de vida.
2.            Primeiro ano da escola.
3.            Expressão atípica de outra síndrome.
4.            Diagnóstico de outro membro da família.
5.            Desordem psiquiátrica secundária.
6.            Adulto com características residuais de Asperger.
Capítulo 2 : Comportamento Social
A pessoa com Asperger é vista por outras pessoas como sendo diferente devido ao seu comportamento social incomum.
Critérios diagnósticos:
Gillberg (1989): Falta de habilidade para interagir com outras crianças
                           Falta de interesse de interagir
                           Pouca compreensão dos sinais sociais
                           Comportamento socialmente e emocionalmente impróprio.
Critérios de comunicação não verbal que interferem no comportamento social:
·         Uso limitado de gestos
·         Linguagem corporal desajeitada
·         Expressão facial limitada
·         Expressão imprópria
·         Olhar parado, peculiar
Outros (Szatmari,1989): não perceber sentimentos dos outros.
Brincando com outras crianças:
·         Preferência de ficar sozinha ou com adulto
·         Não se vê como parte do grupo
·         Indiferença as pressões do grupo
Códigos de conduta
·         Não parece conhecer as regras informais da conduta social: pode dizer ou fazer coisas que ofendem ou incomodam outras pessoas
·         Rigidez com as regras que conhece
·         Impulsiva, age sem avaliar as conseqüências.
Técnica das histórias sociais: usada para capacitar a criança a entender situações específicas em que apresenta comportamento inadequado. Cria-se uma história onde a situação é descrita, destacando-se os aspectos sociais, as ações esperadas e informando o que está acontecendo e por que.
Utiliza-se quatro tipos de sentenças:  Descritivas: descrevem objetivamente onde a situação ocorre, quem está envolvido, o que estão fazendo e por que. Perspectivas: descrevem e explicam as reações e sentimentos das outras pessoas.   Diretivas: dizem o que é esperado que a criança faça ou diga. Controle: desenvolvem estratégias para ajudar a pessoa a lembrar o que fazer ou como entender a situação. Podem ser sugeridas pela criança e incluir seu interesse especial. Deve haver um equilíbrio nos tipos de sentenças com 2 a 5 sentenças descritivas e perspectivas para cada sentença diretiva e/ou de controle. Deve ser escrita na primeira pessoa do singular e no tempo presente.
Programas para Comportamento Social Adequado
1. Pais: modelar o comportamento da criança, mostrando-lhe o que fazer ou dizer em situações comuns do dia a dia, tais como: Começar, participar e terminar uma brincadeira. Flexibilidade e cooperação. Explicar o que deveria ter dito ou feito em uma situação onde agiu inadequadamente. Convidar um amigo para brincar. Estimular atividades em grupo supervisionadas.
2. Professores: a sala de aula oferece muitas oportunidades para aprender comportamento adequado. Algumas estratégias: Use as outras crianças como modelos: quando a criança estiver tendo comportamento inadequado, lembre de pedir para que observe as outras crianças e copie o que estão fazendo. Encorage atividades de cooperação quando houver tarefas que possam ser feitas em pequenos grupos, evitando competição. Seja um modelo de interação com a criança: demonstre tolerância, aponte o comportamento apropriado e seja encorajadora, deste modo as outras crianças da classe tendem a imitar estas atitudes. Reconheça e elogie alunos que se mostrem colaboradores. Explique a criança meios alternativos de buscar ajuda, com outras crianças ou outros membros da equipe. Estimule a amizade com as outras crianças, dentro e fora da sala de aula.
Grupos de habilidades sociais: desenvolvem atividades para ampliar a percepção dos sinais sociais e das atitudes apropriadas as diversas situações. Podem ser feitas a partir de situações reais ou imaginarias, com uso de teatro, vídeos, jogos de mímicas, exercícios, discussões.
Amizades: crianças com Asperger muitas vezes precisam ser estimuladas em suas amizades e orientadas a reconhecer as qualidades de um relacionamento que definem a amizade. Podem fazer atividades onde descrevem atividades que os amigos fazem juntos, como reconhecer manifestações de afeto e identificar palavras e gestos que expressam afeição. Devemos estar atentos para reconhecer quando imitam comportamentos inadequados de seus amigos e quando são vítimas de armações por parte de outras crianças.   
Adolescentes com Asperger tornam se mais conscientes de suas dificuldades e geralmente precisam de mais ajuda em relação aos amigos.
Contato olho a olho: pode haver diferentes graus de dificuldade de manter contato ocular ao interagir com outras pessoas. A pessoa com Asperger não percebe a importância do olhar na comunicação, não consegue interpretar as mensagens sutis no olhar de seu interlocutor e não consegue fixar seu olhar no rosto da outra pessoa por mais que alguns segundos,
Emoções: a falta de empatia da criança com Asperger não significa que ela não tenha sentimentos, mas que fica confusa com os sentimentos das outras pessoas e tenha dificuldade em expressar suas próprias emoções. Seu rosto e linguagem corporal não expressam suas emoções no grau esperado e ela não reconhece bem as mudanças na linguagem corporal das outras pessoas.
Estratégias para compreender emoções
O principio básico é explorar uma emoção de cada vez como um tema de um projeto. Por exemplo, iniciar com a emoção feliz. Providenciar muitas ilustrações com o tema feliz, canções, álbum de fotos, listar eventos que fazem uma pessoa feliz. Graduar os diferentes níveis de felicidade. Pode-se indicar diferenças nos conceitos das pessoas e entrevistar pessoas sobre o que as fazem felizes. Incluir obras de arte que expressam felicidade. Pesquisa do que podemos fazer ou dizer para fazer alguém feliz. Uso de espelho para que a pessoa faça uma expressão feliz. Jogo de completar uma face em branco com traços que expressam felicidade. Fazer desenhos de situações felizes. Interpretar uma pessoa feliz.
Em seguida, podemos passar para uma emoção oposta, como tristeza, trabalhando também como reagir quando outra pessoa expressa a emoção e como podemos expressa-la.
Então podemos passar para outras emoções, raiva, ansiedade, frustração, satisfação, surpresa, orgulho, ciúme e vergonha. Podemos idealizar um caderno para explorar os acontecimentos e pensamentos que despertam as diferentes emoções. Como atividade de grupo, podemos fazer o jogo dos chapéus dos sentimentos, onde cada um escolhe um chapéu com o nome de um sentimento e conta aos outros situações que despertaram esse sentimento.
Devemos ensinar a criança a dizer quando não está conseguindo identificar a emoção que outra pessoa expressa.
Estratégias para expressar emoções
Uso de um desenho de “termômetro” para graduar emoções. Fazer caderno para explorar as respostas apropriadas a situações específicas. Por exemplo, como você se sentiria e o que diria ou faria se alguém dissesse que sua roupa é ridícula? Se você estudasse muito para uma prova e tirasse nota baixa? Se você cumprimentasse outra pessoa e ela te ignorasse? A criança pode fazer desenhos e textos para cada situação. Explicar os efeitos de comportamento inadequado nas outras pessoa (ex.: gargalhar quando está ansioso). O mesmo para linguagem corporal inadequada. Podemos filmar a pessoa e treinar outros modos de expressão. Facilitar a expressão dos sentimentos com perguntas chave ou estimular a criação de um diário.
Capítulo 3 : Linguagem
Quase 50% das crianças com Asperger tem atraso de linguagem. Além disso, parecem ser menos capazes de manter uma conversação natural, sendo que as diferenças aparecem em áreas especificas: no modo como a linguagem é usada no contexto social, na semântica (duplos sentidos) e prosódia (ritmo, ênfase incomuns).
Critérios diagnósticos (Gillberg, 1989):
·         Atraso no desenvolvimento da fala.
·         Expressão superficialmente perfeita.
·         Linguagem formal, pedante.
·         Características de voz e prosódia peculiares.
·     Falhas na compreensão da linguagem, com erros de interpretação dos significados implícitos, leva “ao pé da letra”.
Outras descrições incluem falta de coerência, uso idiossincrático das palavras ou padrões repetitivos da fala.
Numa conversa com uma criança com Asperger podemos observar comentários irrelevantes para a situação ou que não seguem os códigos sociais ou culturais. Além disso, a criança não parece reconhecer as reações do seu interlocutor. A criança precisa ser orientada em relação aos comentários convencionais e apropriados às diversas situações, a maneira de esclarecer algum tópico confuso da conversa, a perceber o momento de não interromper a outra pessoa ou de não fazer comentários alheios ao assunto em questão.
Uma técnica foi desenvolvida com o objetivo de capacitar as crianças a entender aspectos da conversação que podem ser difíceis para elas. Nesta técnica são usadas figuras de pessoas e balões que representam as falas e os pensamentos das pessoas, como numa história em quadrinhos. Podemos desenhar os balões de diferentes maneiras de modo a indicar as diferentes emoções e também usar cores para simbolizar as emoções dos pensamentos (ex. azul para tristeza, verde para contentamentos, etc). Então podemos associar aspectos do tom da voz e da linguagem corporal que também expressam as emoções durante uma conversação. Esta técnica pode mostrar que cada pessoa pode ter diferentes pensamentos e sentimentos em cada situação, que podem não expressar em palavras o que estão sentindo e ainda mostrar alternativas de comentários para uma dada situação. Também podemos usa-la para mostrar como se muda um assunto e como incluir comentários que expressam simpatia pelo interlocutor.
Figuras de linguagem e expressões populares (caiu a ficha, o gato comeu sua língua, fica frio, etc) podem ser muito confusas para uma criança com Asperger e precisam ser explicadas. A mesma coisa acontece com brincadeiras que geralmente fazemos com as crianças, que podem ser mal interpretadas. Também pode haver problema em detectar mentira ou sarcasmo. Precisamos ter cuidado ao fazer comentários ou dar instruções.
Em conversas, nós mudamos o tom de voz e o volume para dar ênfase a certas palavras (Eu não disse que ela roubou o meu dinheiro). Crianças com Asperger normalmente não utilizam este recurso e não o reconhecem na fala de outra pessoa.
Algumas crianças com Asperger podem falar sozinhas (para “praticar frases” ou como ritual) e outras podem ter dificuldades em situações quando mais de uma pessoa está falando e algumas precisam que as frases sejam repetidas para que entendam o seu significado. Para estas ultimas é necessário dar instruções claras, com pausas para serem processadas, repeti-las de outra maneira ou mesma fornece-las por escrito.
Capítulo 4 :  Interesses e rotinas
Duas características da Síndrome de Asperger que ainda não foram adequadamente definidas na literatura são: a tendência de tornar-se fascinado por um interesse especial e a imposição de rotinas (rituais) que devem ser seguidas.
O interesse especial parece começar com coleções diversas e mais tarde evolui para assuntos específicos, os mais comuns sendo transporte, dinossauros, eletrônica e ciência. Isto aparentemente dá segurança e prazer à criança. Quando se torna um problema para a família, por sua intensidade ou estranheza, podemos tentar o acesso controlado ao seu interesse. Muitas vezes o interesse pode ser encorajado para um uso construtivo, para a incorporação de novos conhecimentos em sala de aula ou mesmo como uma vocação profissional, bem como para relaxamento e ampliação do contato social.
O estabelecimento de rituais leva a situações quando o não cumprimento destes leva à grande ansiedade e frustração da criança. Pode tornar-se mais intenso num período de mudanças na vida da pessoa ou em situações de ansiedade. É importante que a criança tenha uma rotina diária bem estabelecida, com uma seqüência de eventos definida para tornar a vida previsível. No fim do ano escolar devemos ter um preparo para as mudanças do próximo ano.
Capítulo 5 : Falta de habilidade motora
Uma certa falta de habilidade motora ocorre em 50 a 90% das crianças e adultos com Asperger. Na criança pequena pode ser manifestada por uma habilidade limitada para jogos com bola, dificuldade em amarrar sapatos e um andar característico. Na idade escolar notamos uma letra de mão ruim e falta de aptidão para esportes. Na adolescência uma minoria desenvolve tiques faciais ou piscam os olhos constantemente.
Locomoção: pode haver falta de coordenação entre os membros superiores e inferiores, dando uma aparência de “boneco” ao andar ou correr. Um fisioterapeuta pode desenvolver uma marcha mais natural e coordenada através de programas usando espelhos, música, dança. E interessante notar que a habilidade para nadar parece ser a menos afetada.
Jogos de bola: a coordenação pobre com a bola pode levar à exclusão da criança dos jogos das outras, portanto deve ser treinada para ter habilidade suficiente para incluir-se nas atividades.
Equilíbrio: pode precisar de treino para atividades que requerem equilíbrio.
Destreza manual: habilidade de realizar atividades que exigem o uso das duas mãos, tais como vestir-se, amarrar sapatos ou comer com garfo e faca. Pode afetar atividades de membros inferiores também, tal como andar de bicicleta. Uma estratégia útil é ensinar a criança com as mãos do adulto sobre as mãos da criança, gradualmente diminuindo o suporte.
Letra de mão: o professor pode passar um tempo considerável decifrando a letra da criança. A criança pode estar consciente da letra feia e evitar escrever. A ajuda de um terapeuta ocupacional pode ser necessária, mas a tecnologia moderna pode minimizar o problema, já que crianças com Asperger podem ser hábeis usando o teclado dos computadores. Permitir o uso do computador para fazer as lições e as avaliações pode igualar seu desempenho com o das outras crianças.
Ritmo: pode haver dificuldade para acompanhar o ritmo dos movimentos das outras pessoas ao andar ou tocar um instrumento, por exemplo.
Algumas desordens especificas: Síndrome de Tourette, três categorias: motora (tiques), vocal (sons incontroláveis de animais ou outros ou palilalia/ecolalia) e comportamental (comportamento obsessivo compulsivo). Catatonia ou características de Parkinson, rara.  Disfunção cerebelar.   
Capítulo 6 : Aspectos cognitivos
Cognição é o processo de construção do conhecimento e inclui pensamento, aprendizagem, memória e imaginação. Através da pesquisa no campo da psicologia cognitiva nossa compreensão a respeito da Síndrome de Asperger tem aumentado. Por volta dos quatro anos de idade, a criança começa a entender que as outras pessoas têm sentimentos, pensamentos, valores e desejos que vão influenciar seu comportamento. Portadores de Asperger parecem apresentar uma falha nesta habilidade fundamental. Por exemplo, eles podem não entender que um comentário pode ofender ou constranger uma pessoa e que um pedido de desculpas poderia ajudar a outra pessoa a sentir-se melhor. Durante a etapa do diagnóstico são usadas histórias para avaliar a capacidade da criança de considerar o pensamento ou sentimentos do outro. Mesmo quando são treinadas a reconhecer o que o outro possa pensar ou sentir, eles podem mostrar que são capazes de racionalizar essas reações, mas não de agir de acordo com elas numa situação. Parece haver uma dificuldade para perceber a relevância de diferentes tipos de conhecimento para a resolução de um problema especifico.
Habilidades nos Testes de Inteligência
Os testes de inteligência podem ser úteis para identificar as áreas em que a criança vai bem e aquelas em que tem dificuldade. Como os resultados geralmente são muito discrepantes (bons quando se avalia significados de palavras, informação objetiva, aritmética e geometria e desapontadores em ítens que requerem compreensão e aptidão social), deve-se ter cautela em interpretar os testes. O padrão  mais importante do que o número obtido. O autor recomenda que os testes escolares sejam modificados de forma que o texto importante seja destacado, que o local tenha o mínimo de distrações e que haja tolerância com os problemas de letra e do tempo usado para escrever as respostas.
Memória
Geralmente os portadores de Asperger têm excelente memória, o que pode ser trabalhado para ser uma vantagem para eles.
Inflexibilidade de pensamento
O pensamento da pessoa com Asperger tende a ser rígido e não suportara mudanças ou falhas. Eles podem ter sempre a mesma abordagem para um problema, sendo menos capazes de aprender com os próprios erros. Podem persistir numa estratégia e não aceitam procurar outras alternativas. Isto pode causar vários problemas em sala de aula. Um modo de lidar com isso é sempre levar a criança a procurar as várias alternativas de cada situação.
Outra característica é que uma vez que a criança tenha aprendido uma atividade, ela pode não conseguir transferir ou generalizar seu conhecimento para outras situações. Pais e professores devem ficar atentos para isso.
Ler, soletrar e habilidade com números
Uma boa parte dos portadores de Asperger pode ficar nos dois extremos em sua habilidade com letras e números. Alguns desenvolvem hiperlexia, ou seja, o reconhecimento das palavras altamente desenvolvido, mas uma pobre compreensão das palavras ou do texto, enquanto outros apresentam dificuldade considerável decifrando o código da leitura. Outros são fascinados por números, embora usem métodos próprios e fora do comum para resolver problemas matemáticos. Isso deve ser levado em conta pelo professor. Pode haver um medo desproporcional de falhar ou ser imperfeito, sendo que algumas crianças nem começam uma atividade se suspeitam que podem não ser bem sucedidas. O professor precisa ser encorajador, evitando o tom de crítica. Se ocorrer um erro, agir naturalmente explicando que a tarefa realmente é difícil e que não é culpa da criança. Algumas crianças não pedem ajuda e o professor precisa estar atento para isso.
Parece haver um distúrbio da atenção e mesmo acontecer que a pessoa com Asperger também apresente Transtorno de Déficit de Atenção. Ocasionalmente a criança parece estar no mundo da lua, mas está escutando tudo. Outra característica é a falta de motivação para atividades pouco interessantes para ela.
Imaginação
A brincadeira imaginativa da criança com Asperger pode ser muito criativa, mas geralmente solitária ou com regras rígidas. Crianças mais velhas podem desenvolver uma rica e imaginativa vida interior, como uma forma de escape ou por prazer, o que pode levar ao início de uma carreira acadêmica ou a um hobby. Um aspecto negativo é que a criança tem dificuldade de distinguir realidade e ficção.
Pensamento visual
Evidências sugerem que o pensamento das pessoas com Asperger seja predominantemente do tipo visual. A desvantagem é que muito do conteúdo escolar é apresentado para o modo verbal de pensamento, razão pela qual devemos usar diagramas ou analogias visuais para ensinar. Entretanto, o pensamento visual é uma grande vantagem para a área da ciência e da arte, já que permite recriar objetos de maneira original.
Capítulo : 7 Sensibilidade sensorial
Cerca de 40% das crianças com Asperger apresentam uma percepção muito intensa de estímulos sensoriais comuns, embora sejam mais tolerantes a níveis moderados de dor. Pode haver extrema sensibilidade auditiva, táctil, visual e quanto ao gosto e textura dos alimentos.
A pouca resposta à dor faz com que os pais tenham que ser mais atentos aos seus sinais.
Capítulo 8 : Algumas questões comuns
A Síndrome pode ocorrer com algum outro distúrbio?
Sim, existem algumas condições médicas (esclerose tuberosa, neurofibromatose, paralisia cerebral) que constituem fatores de risco para Asperger. É possível que uma criança tenha também Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade associado e deve ser tratada para ambas.
Qual é a diferença entre Autismo de Alto Rendimento e Asperger?
O termo Autismo de Alto Rendimento foi criado para designar crianças que apresentaram sinais de autismo clássico nos primeiros anos de vida e então desenvolveram a habilidade de falar usando sentenças complexas, habilidades sociais básicas e capacidade intelectual dentro do normal. Crianças com Asperger não apresentaram características do autismo clássico em seus primeiros anos.
Meninas e meninos diferem quanto à expressão da Síndrome?
Para cada menina avaliada, temos 10 meninos, embora a evidência epidemiológica indique 1 menina afetada para cada 4 meninos. Os meninos têm déficits sociais maiores e maior propensão a comportamento agressivo ou inadequado, principalmente quando frustrados ou ansiosos. Meninas parecem mais capazes de imitar o comportamento de outras crianças. Aparentam ser mais imaturas do que diferentes das outras. A experiência clínica sugere que o prognóstico para as meninas seja melhor.
Como lidar com a ansiedade da criança?
A vida escolar costuma ser estressante para a criança. Ela nunca sabe quando seu comportamento vai ser inadequado para determinada situação. Para algumas, o nível de ansiedade é como a maré, períodos agitados seguidos por períodos calmos. Pais e professores devem notar os sinais de ansiedade na criança e conhecer os eventos que desencadeiam stress para ela. Para níveis baixos de ansiedade, indicamos atividades relaxantes (ambiente calmo, com música, massagem, tempo no computador ou com um livro que acha interessante). Outra opção são atividades esportivas para queimar energia. Se o recreio escolar for um problema, aconselha-se usar a primeira parte dele para brincar com outras crianças e o resto do tempo para brincar no computador ou ficar na biblioteca. Isso faz com que se acalme para o resto do período. Algumas crianças precisam de intervalos pequenos ao longo das aulas.
Muitas crianças com Asperger têm uma preocupação exagerada em não parecer burras perante as outras e não pedem ajuda ou assistência do professor quando necessitam. Neste caso, pode-se combinar um código entre a criança e o professor para pedir ajuda sem chamar a atenção das outras crianças. Alguns casos se beneficiam de terapia cognitivo-comportamental e medicação.
Há risco de depressão?
O risco é um pouco maior do que na população normal, porém tende a ocorrer na adolescência e vida adulta como reação às circunstâncias ocasionadas pela Síndrome (falta de amigos e vida social, pouco sucesso na escola e no trabalho). É importante que a família fique atenta às diferentes maneiras da pessoa expressar seus sentimentos (riso excessivo, indiferença).
Como lidar com a raiva da criança?
As crianças com Asperger parecem provocar os instintos protetores ou predatórios nas outras. Algumas crianças gostam de fazer brincadeiras de mau gosto ou armar situações para o colega com Asperger se meter em encrencas. A criança com Asperger tende a reagir furiosamente, pois lhe falta empatia, sutileza e auto-controle para moderar sua reação e acaba por ser vista como agressiva.
Podemos usar a estratégia de explicar sentimentos, encorajar auto-controle (contar até dez, dar uma volta, respirar fundo) e ensinar opções (usar palavras, sair de perto da situação, pedir a outra pessoa que saia, buscar ajuda de um adulto).
Mulheres podem se tornar o alvo da raiva, pois costumam reagir menos.
Relaxamento e atividades físicas são também opções.
Para crianças mais velhas, a técnica das histórias em quadrinhos pode ser usada, explorando os sentimentos e as ações.
Medicação pode ser útil em períodos particularmente estressantes.
O que muda na adolescência?
Os adolescentes ficam mais sensíveis às críticas, percebem mais as diferenças entre si mesmos e seus amigos e tendem a ter exacerbações dos sinais da Síndrome. As mudanças emocionais tendem a ocorrer mais tarde, bem como interesses românticos.
Quais recursos são necessários para a criança?
Geralmente as crianças freqüentam escolas regulares. O mais importante é o acesso da família e dos professores à informação. Em alguns casos, um tutor para a criança é aconselhável. Suas principais responsabilidades são: encorajar a socialização da criança, ajudando a criança a reconhecer os códigos de conduta e a desenvolver suas habilidades e talentos, trabalhar a coordenação motora, ajudar nos problemas de aprendizagem. Ou seja, o tutor aplica um programa desenvolvido pelo professor e por diversos especialistas que abrange habilidades sociais, lingüísticas, motoras, sensoriais e comportamentais.
Que qualidades devemos buscar na escola ou professor?
A criança com Asperger é um desafio e a expressão dos sinais pode variar dia a dia. Num dia ela pode estar calma, concentrada nas atividades, relaciona-se bem com os outros e absorve o conteúdo das aulas. No dia seguinte pode parecer outra criança. Portanto o mais importante é que o professor seja calmo, flexível, previsível em suas reações e que seja capaz de ver o lado bom da criança. Não há necessidade de experiência anterior. Pode levar um tempo para que aprenda a se relacionar com a criança. Classes pequenas e mais tranqüilas, com uma atmosfera de encorajamento favorecem a criança. Quando o professor apóia a criança com Asperger, as outras crianças da classe tendem a fazer o mesmo. Também é importante que o professor receba apoio dos colegas e da administração da escola. Alguns ajustes poderão ser necessários para as avaliações da criança.
O que podemos esperar do futuro?
Pessoas com Asperger podem ser extremamente bem sucedidas em suas vidas profissionais, podem formar suas famílias e desenvolver suas habilidades sociais até ao ponto em que não possam mais ser distinguidas das outras pessoas. Isso depende do grau da expressão da Síndrome e do tipo de assistência que receberam ao longo da vida.