Robert G. Watters
Wilhelmina E. Watters
Resumo e Comentário por Ana Maria S. R. de Mello e Rebeca Costa e Silva
É  comum lembrarmos e distinguirmos uma síndrome ou um transtorno através  de características observadas. Nos Transtornos Globais do  Desenvolvimento, comportamentos de autoestimulação como balançar, abanar as mãos, abocanhar e girar objetos são característicos. O reforço de tais comportamentos, overcorrection, punição e time-out [tempo fora] estão entre as técnicas comportamentais que vem sendo aplicadas aos comportamentos de autoestimulação.  A Wilhelmina Watters é educadora de crianças com autismo e por isso tem  familiaridade com tais procedimentos. Ela observou de modo anedótico,  uma diminuição nos comportamentos de autoestimulação de seus alunos após  aulas de educação física, passeios e excursões fora da sala de aula. Se  isto fosse validado através de experimentação científica, teríamos  então mais uma técnica para lidar com comportamentos de autoestimulação.  No entanto, seria necessário avaliar se a única diminuição é a da  emissão de tais comportamentos ou se há diminuição geral em outros  comportamentos o que no caso, seria inviável. Outro ponto considerado é  se o efeito seria simplesmente devido à mudança na rotina acadêmica.  Para verificação deste efeito acrescentou-se ao estudo a condição  controle de sessão de assistir televisão.
O  objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos do exercício físico no  comportamento de autoestimulação de crianças com autismo durante uma  sessão de treinamento de linguagem, elaborada para ocorrer após  atividades acadêmicas regulares, assistir televisão ou um período de  atividades físicas.
Participaram  do estudo cinco sujeitos, todos do gênero masculino, com diagnóstico de  autismo que tinham [no momento do estudo] entre 9 anos e 5 meses e 11  anos e 7 meses. Cada participante apresentava diversos comportamentos  não vocais de autoestimulação, caso um professor não exercesse algum  tipo de controle.
As  sessões ocorreram em uma sala regular de treinamento de linguagem Um  observador, um professor de apoio e o professor que estava conduzindo a  sessão, permaneceram na sala. 
Vale  lembrar que o estudo foi inserido no contexto acadêmico destas  crianças, para preservar ao máximo o ambiente natural em que ocorriam os  comportamentos de autoestimulação.
Antes das sessões de treinamento de linguagem, havia três tipos de pré-condições:
- Atividade Física;
 - Televisão; e
 - Acadêmica.
 
As  crianças participaram como um grupo nas sessões de treinamento de  linguagem. As pré-condições e as sessões foram conduzidas por  professores com a ajuda de um aluno de psicologia. As crianças ao  completarem uma pré-condição eram levadas para a sala de aula para a  sessão. Durante a sessão os professores não tentaram controlar os  comportamentos de autoestimulação das crianças. Ao fim da sessão de  treinamento de linguagem, as crianças retomavam suas rotinas.
Comparou-se  as porcentagens na pré-condição acadêmica e de atividades física de  comportamentos de autoestimulação dos cinco sujeitos. Observou-se que  para todos os sujeitos houve diminuição de ocorrência de tais  comportamentos, está diminuição foi de 3,7 % para o sujeito E até 57,1 %  para o sujeito D, com uma média de diminuição em 32,7 % entre todos os  participantes.
No  entanto, não se observou diferença [de significância estatística] no  número de respostas corretas na sessão de treino de linguagem após as  pré-condições acadêmica e de atividade física. 
Também não houve diferença nos níveis de autoestimulação após a pré-condição de assistir televisão.
Estes  dados sugerem que a intervenção com atividade física, além de  contribuir para a diminuição de comportamentos de autoestimulação também  não atrapalha o andamento e a rotina escolar.
A  intervenção com atividade física também é viável, pois é mais simples  de ser aplicada pelos professores do que outras intervenções  comportamentais. Um exemplo seria que para um professor, segurar a mão  de um aluno enquanto o mesmo corre durante uma atividade física é mais  fácil do que aplicar outros procedimentos comportamentais para outro  professor.
A  partir destes resultados outras questões surgem. Uma delas é o fato de  que as pré-condições de atividades físicas duraram em torno de apenas 8 a  10 minutos de corrida. Seria interessante em estudo futuro analisar os  efeitos de atividades físicas com maior duração. Como as pré-condições  antecederam uma atividade que as crianças já sabiam realizar [a sessão  de treino de linguagem], pergunta-se como seria o efeito da atividade  física em uma atividade que as crianças não soubessem realizar. Um ponto  para pensar, é de que certos comportamentos autoestimuladores  dependendo do contexto são comportamentos requeridos. Ou seja, às vezes  uma tarefa acadêmica requer movimentos dos braços e em outros momentos o  movimento dos braços podem ser autoestimuladores. O que a literatura  coloca é que quanto maior o grau  de sobreposição [entre comportamentos de autoestimulação e requisitos de  tarefas], mais os comportamentos de autoestimulação interferem na  tarefa, enquanto o desempenho da tarefa é facilitado com a eliminação do  comportamento autoestimulador. 
A atividade física envolve movimentos das pernas, braços e do torso. Portanto,  neste estudo houve sobreposição entre os comportamentos de atividade  física e aqueles autoestimuladores (para algumas crianças  autoestimulação envolvia movimentos dos braços enquanto a atividade  física envolvia outros comportamentos, como o movimento das pernas que  não foram observados como autoestimulação das crianças). Este  procedimento propõe a eliminação de um comportamento de autoestimulação  fazendo com que o paciente repita o comportamento de forma consistente; e  tem sido usado majoritariamente para eliminar tiques, comportamentos de  bater a cabeça, dentre outros. O sucesso ou eficácia deste procedimento  está em quanto os comportamentos de autoestimulação se sobrepõem aos  das atividades físicas. Assim, talvez se os exercícios físicos tivessem  sido escolhidos de acordo com os comportamentos de autoestimulação que  cada criança apresentava haveria uma eficácia maior do que a observada  no estudo.
Decreasing Self-Stimulatory Behavior with Physical Exercise in a Group of Autistic Boys
Journal of Autism and Developmental Disorders, Vol. 10, No.4, 1980
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