A criança com disfunção Integrativa Sensorial (DIS) não pode se adaptar eficientemente, suavemente e satisfatoriamente a um ambiente normal, porque seu cérebro não desenvolveu os processos de integrar as sensações daquele ambiente. Ele/a necessita de um ambiente seja altamente estabelecido feito sob medida para o seu sistema nervoso. Caso o ambiente seja estabelecido apropriadamente, a criança será capaz de integrar sensações que nunca havia sido capaz de integrar antes. Dada a oportunidade de agir dessa forma, o cérebro se organizará (Ayres, 1995).
Nos últimos 15 anos, neurocientistas mostraram que a integração com o ambiente realmente melhora a estrutura, a química e a função do cérebro. Os pioneiros neste tipo de pesquisa foram Dr Mark Rosenzweig, citado por Ayres (1995), e seus associados na Universidade da Califórnia em Berkeley. Nos experimentos de Rosenzweig e seus associados, um grupo de ratos passava algum tempo em ambiente enriquecido, enquanto outro grupo ficava em um ambiente empobrecido, após algum tempo estes ratos eram mortos e seus cérebros dissecados e analisados, em quase todos os casos, eles descobriram que os ratos do ambiente enriquecido possuíam córtices cerebrais mais pesados, maior quantidade dos elementos químicos que mantém o cérebro saudável, maior quantidade dos elementos envolvidos na transmissão de impulsos ao longo das sinapses, e mais interconexões entre os seus neurônios. Um rato não precisava passar o tempo todo num ambiente enriquecido Rosenzweig e seus colaboradores descobriram que duas horas diária em um mês eram suficientes para produzir mudanças significativas no cérebro dos ratos (Ayres, 1995).
A terapia de Integração Sensorial tem o uso de atividades objetivas para as crianças que envolvam a promoção e controle de estímulos sensoriais, atividades estas que vão elicitar respostas adaptativas que integram os estímulos, a promoção e controle de estímulos sensoriais aumenta as oportunidades para receber, filtrar e organizar informações sensoriais, respostas adaptativas melhoram a habilidade para responder apropriadamente às várias demandas do ambiente. Por hipótese, a ênfase esta em aumentar o processamento de informações sensoriais dentro do sistema nervoso. A terapia tem melhores resultados quando a criança quer estímulos (Michel e Babey, 1997).
O princípio central da terapia é fornecer e controlar a entrada de estímulos sensoriais, especialmente o estímulo do sistema vestibular, das articulações, músculos e pele de tal forma que a criança espontaneamente forma as respostas adaptativas que integram todas as sensações.
Fazer esta idéia funcionar com a criança disfuncional requer um terapeuta experimentado e uma ampla sala com muitos equipamentos simples, porém especial. Quando o terapeuta esta fazendo o seu trabalho eficientemente a criança esta organizando o seu sistema nervoso e parece que a criança está simplesmente brincando (Ayres, 1995).
Antes de tratar a criança deve-se diagnosticar o seu problema. Para crianças com idade entre quatro e nove anos, a maioria dos terapeutas usam o “Southern Califórnia Sensory Integration Tests” (SCSIT) para medir a eficiência dos processos sensoriais da criança (Ayres, 1995).
Apresentação da Sala de Integração Sensorial
Ao planejar uma sessão de tratamento, é essencial dar um ambiente seguro. O equipamento pode ser muito móvel, instável e rápido para desafiar os vários sistemas sensitivos da criança. Durante o tratamento, é importante incentivar a criança a ser tão ativa quanto possível. Abaixo segue os objetivos do tratamento e os tipos de equipamentos usados para auxiliar a criança a atingir os objetivos terapêuticos (Long e Cintas, 2001).Skate: A posição prono estimula certos receptores da gravidade, conforme a criança desce a rampa, a aceleração ativa outros receptores da gravidade bem como os receptores semicirculares de canais, conforme os desafios aumentam, as rajadas de estímulo vestibular abrem caminhos para muitas partes do seu sistema nervoso. O estímulo forte ativa reflexos ainda não desenvolvidos no passado, estes reflexos seguram cabeça e pernas para cima contra a força da gravidade. A contração dos músculos do pescoço e o movimento dos olhos conforme eles acompanham o que está acontecendo enviam impulsos proprioceptivos, onde eles interagem com o estímulo vestibular (Ayres,1995).
Cama elástica: Pode ser de variados tamanhos, deve ter uma distância segura do chão e ser acolchoada nas extremidades. Principalmente estimula o sistema vestibular e proprioceptivo. Provoca estímulos sensoriais em todas as articulações, pele e músculos da criança, o que vai gerar respostas motoras. Conforme as crianças gradualmente vai dominando estas sensações e respostas, o seu cérebro aprende a modular a atividade sensorial e forma uma percepção corporal mais precisa (Ayres, 1995).
Piscina de bolinha: É um tanque de tamanhos variável, cheio de bolinhas plásticas coloridas. Estimula os sistemas proprioceptivo, tátil e visual. A estimulação tátil pode ter tanto um efeito facilitatório quanto inibitório, dependendo de qual parte do corpo são estimuladas. Não só em relação à estimulação das bolinhas na pele da criança, mas também a estimulação de escovar ou esfregar a pele, o que depende se a estimulação é leve ou profunda. Quase invariavelmente, a resposta da criança ao estímulo sensorial é um bom guia do quão o cérebro dela está integrando as informações. As sensações de pressão profunda freqüentemente ajudam a organizar uma criança tatilmente defensiva, hiperativa ou distraída. Na caso das bolinhas, a cor estimula a visão, o tanque fornece uma sensação de profundidade e o contato das bolinhas na pele são informações que serão processadas e integradas no cérebro (Ayres, 1995).
Bolas, rolos, colchões, colchonetes, tapetes e materiais texturizados: É utilizada de várias maneiras, estimula o sistema proprioceptivo, tátil e vestibular, serve de base para outras atividades. Pode ser associado a outros materiais, como cama elástica e no balanço (Ayres, 1995). Dão superfície de movimento para facilitar ajustes posturais e reações de equilíbrio, dependendo da velocidade do movimento, podem ser relaxantes ou estimulantes (Long e Cintas, 2001).
Materiais coloridos e sonoros: Estimulam a visão e o sistema auditivo. Outra forma de estimulação sensorial é através do sentido do olfato. Julia Fox, citado por Ayres (1995), descobriu que crianças cegas podiam identificar objetos em suas mãos mais precisamente após óleo aromatizado ter sido espalhado pelo ar. Um tipo de sensação ajuda o cérebro a processar outros tipos de sensação (Ayres, 1995).
Tábuas de equilíbrio: A tábua de equilíbrio ajuda a desenvolver respostas posturais e de equilíbrio, se a criança não tiver habilidades de direcionar a si mesma em uma atividade, o terapeuta a ajuda até que seu cérebro esteja mais organizado (Ayres, 1995).
Apresentação dos Equipamentos Suspensos
Os principais são o balanço, a rede, a plataforma, o rolo e o cavalo, cada um tem suas adaptações, como cunha, rolos e bolas. Deitar no balanço e ficar suspenso sobre o solo requer um bom padrão de flexão, este padrão está fortemente arraigado no sistema nervoso. Agarrar-se é o primeiro movimento corporal que uma criança faz, e dessa forma acaba fornecendo o embasamento para o desenvolvimento de funções sensórios-motoras. Agarrar-se em um balanço preenche alguns dos passos de desenvolvimento básicos e torna mais fácil para a criança desenvolver o planejamento motor (Ayres, 1995).
Balanço: A criança fica sentada no balanço, conforme a criança segura, ela recebe muita estimulação tátil do revestimento do material, muitos estímulos proprioceptivos dos músculos que estão se contraindo para segura-lá no balanço e estímulos das articulações e uma grande quantidade de sensações vestibulares oriunda do movimento do balaço. A excitação, que age através do sistema límbico e do sistema de ativação reticular ajuda a criança a se segurar mais forte no balanço, conforme vai mais alto. O balanço, assim como os outros aparelhos, ajuda a desenvolver respostas posturais e de equilíbrio, incentiva a flexão antigravidade ou o equilíbrio postural na oposição sentada (Ayres, 1995).
Plataforma: Segundo Ayres (1995) e Long e Cintas (2001) é uma superfície larga, plana e quadrada. O terapeuta vai possuir uma superfície grande e móvel para desafiar as reações de equilíbrio da criança, que pode ficar sentada ou deitada, em prono ou decúbito dorsal. A plataforma promove uma segurança gravitacional e fornece experiências de movimentos. Para a criança que pode sentar relativamente bem o balançar em várias direções vai ativar tantos receptores vestibulares possíveis. Se a criança não senta, fica deitada e desenvolve reações posturais ou de equilíbrio.
Rolo e cavalo: O cavalo e o rolo ajudam a desenvolver respostas posturais e de equilíbrio. A criança pode deitar em prono ou sentar, se não tiver a habilidade de direcionar a atividade o terapeuta ajuda. O movimento cria uma demanda por reações de equilíbrio, enquanto ao mesmo tempo o estímulo vestibular torna fácil para a criança desenvolver estas reações (Ayres, 1995).
Rede: A rede é feita de nylon com uma trama larga, de modo que a criança mesmo balançando visualiza o ambiente externo. A estimulação vestibular pode ser efetuada de varias maneiras: deitada em prono, supino, de lado ou sentada (Carvalho, 2002).
Segundo Long e Cintas (2001), a rede é um suporte que envolve a criança, promove segurança gravitacional, pode deitar em prono, decúbito dorsal e sentar. Fornece experiência de movimento, que pode ser usado para aumentar gradualmente a tolerância ao movimento.
Disco de flexão: Balanço com disco chato e poste central em ângulos retos entre si. Promove flexão antigravidade ou o equilíbrio postural na posição sentada, segurar o poste central desenvolve os músculos de flexão (Long e Cintas 2001).
DISCUSSÃO
Segundo Dejean (1999) se a entrada sensorial não for processada e não for organizada, o resultado motor é anormal, “output”. Este ciclo continua com mais entradas sensoriais erradas, o que gera uma saída desorganizada. As conseqüências desse sistema nervoso central desorganizado são as disfunções de Integração Sensorial.
Experimentos com animais mostraram que um ambiente enriquecido ajuda o cérebro a se recuperar de dano nos neurônios e a desenvolver funcionalmente saudável. Precisam-se ser recuperados, os neurônios danificados devem ser usados, tal como no desenvolvimento normal, o desenvolvimento depende do uso. Se o sistema visual estiver danificado, estimulação visual é necessária para a recuperação da visão, se o dano estiver nas partes do cérebro que processa o som, o cérebro necessita de experiências de audição para organizar novas funções auditivas. Entretanto, ao mesmo tempo, experiências vestibulares e táteis têm um efeito benéfico através de todo o sistema nervoso (Ayres, 1995).
Segundo Levitt (2001) muitos, senão todos os quadros musculares e articulares encontrados na Paralisia Cerebral, originam-se na falta de influências coordenadoras do cérebro. Em outras palavras, os mecanismos neurológicos de postura, equilíbrio e movimento estão desorganizados. Portanto, os músculos que são ativados para controlar a postura, o equilíbrio e o movimento tornam-se descoordenados, rígidos e fracos.
A lesão cerebral na Paralisia Cerebral pode ser responsável também por distúrbios dos sentidos especiais da visão e audição, anormalidades da fala e linguagem e aberrações de percepção. Distúrbios perceptivos ou agnosias são dificuldades em reconhecer objetos ou símbolos. Também podem haver apraxias, algumas das quais são também denominadas distúrbios visuomotores. Isto significa que a criança é incapaz de realizar certos movimentos, mesmo que não haja paralisia, porque os padrões ou engramas foram perdidos ou não se desenvolveram. A apraxia pode envolver movimentos membros, face, olhos, língua ou estar restrita especificadamente a atos como a escrita, desenho e construção ou mesmo o ato de vestir-se. Em outras palavras, parece haver um problema no planejamento motor das crianças que são apráxicas. Crianças com Paralisia Cerebral também podem ter vários problemas de comportamento, como hipercinesia e facilidade em distrair-se, que tem origem na lesão cerebral orgânica. Todos estes distúrbios resultam em problemas de aprendizagem variados e dificuldades de comunicação. Além disso, pode haver também várias epilepsias ou déficits intelectuais (Levitt, 2001).
Nem toda criança apresenta algumas ou todas estas deficiências associadas. Mesmo que as deficiências fossem apenas físicas, a pobreza de movimentos resultantes impediria a criança de explorar o ambiente completamente. Ela está, portanto, limitada na aquisição de sensações e percepções das coisas cotidianas. Uma criança pode então aparentar distúrbios de percepção, que podem não ser orgânicas, mas causados pela falta de experiência. A mesma falta de experiências cotidianas retarda o desenvolvimento da linguagem e afeta a fala da criança. Sua compreensão geral pode sofrer, isto pode ir longe a ponto de uma inteligência normal ser camuflada por uma deficiência física severa, além disso, a falta de movimento pode afetar o comportamento geral da criança. Assim, alguns comportamentos anormais podem ser decorrentes da falta de experiências sociais e emocionais satisfatórias para as quais o movimento é necessário (Levitt, 2001).
Há uma hipótese de Kreutzberg, citado por Michel e Babey (1997), que diz que o estímulo vestibular estimula o amadurecimento neurosináptico em alguns tractos inibitórios e que os reflexos indesejados são assim inibidos com mais rapidez. Assim, a reação ao movimento vem mais rápido.
Existe uma relação importante entre a informação sensorial advinda dos proprioceptores e os mecanismos de regulação da postura. Esta relação é muita intensa e vem sendo confirmada pelo estudo de diversos pesquisadores, como Bergin e col., citado por Bass (2000), que afirma que é mais que evidente que a propriocepção é o mais importante impulso sensorial para controle da postura em seres humanos. Por outro lado, sabemos que não só o estímulo proprioceptivo que faz a regulação da postura, para Wolfson e col., citado por Bass (2000), o equilíbrio postural usa informações sensoriais na forma de estímulos vestibulares, visuais e proprioceptivos. Estes impulsos são processados por estruturas neurais, que produzem resposta motora organizada que reflexamente restitui o alinhamento postural. Assim, tanto o sistema visual quanto o vestibular, contribuem efetivamente para o controle da postura, principalmente, quando há alguma alteração no sistema proprioceptivo. Porém, para Blouin e col., citado por Bass (2000), a exclusiva informação vestibular não terá utilidade para o propósito de orientação corporal.
Os Drs Roger Walsh da Universidade Stanfort e Robert Cummins da Universidade de Queensland, citado por Ayres (1995), revisaram um grande número de estudos sobre ambientes terapêuticos. Eles descobriram que o fator crítico na recuperação era a interação física ativa com o ambiente sensorial. Quando o indivíduo simplesmente recebia a estimulação sensorial passivamente, o seu cérebro não se recuperava. O cérebro deve direcionar sua própria recuperação através da adaptação à estimulação e fornecimento de mais estímulos para si próprio. Ninguém pode fazer isso por ele. O mesmo se aplica à terapia para crianças com disfunções integrativas sensoriais.
Piaget, citado por Ayres (1995), enfatizou que o estímulo e a resposta eram circulares, em um ambiente onde existem muitos estímulos, o indivíduo responde freqüentemente e de mais diferentes maneiras, e cria uma quantidade e variedade maior de estimulação para si mesmo. Durante a terapia integrativa sensorial, as crianças freqüentemente aprendem acidentalmente habilidades ou comportamentos específicos, mas estes específicos não são o objetivo. Ao invés disso, o que se quer são atividades físicas que produzam sensações que levem a respostas adaptativas, e as quais forneçam mais sensações que provoquem respostas adaptativas ainda mais complexas. Deste modo, o cérebro melhora a sua eficiência geral de funcionamento.
A criança portadora de Paralisia Cerebral por todo o seu comprometimento físico, não recebe toda estimulação que uma criança normal receberia, portanto é uma criança com disfunção da Integração Sensorial, a terapia de Integração Sensorial para essas crianças, segundo Ayres (1995), funcionaria porque o ambiente terapêutico é preparado de forma que é divertido para a criança usar os seus processos sensoriais de uma forma que ela jamais usaria antes, a terapia é uma maneira de fazer o que a natureza, a criança e a sua mãe não foram capazes de fazer.
A Integração Sensorial, segundo Long e Cintas (2001) baseia-se em três princípios básicos: os indivíduos são capazes de receber informações de seus corpos e do ambiente, processar e interpretar essas informações em seu sistema nervoso central e usá-las de forma funcional. Segundo, os indivíduos com problemas de processamento sensorial terão dificuldades em planejar e realizar atos motores. Terceiro, se o individuo com disfunção do processamento sensitivo receber estimulação sensitiva em um contexto significativo, integrará as informações sensitivas e, desta forma, demonstrará habilidades motoras mais eficientes, bem como comportamentos adaptativos. E o equipamento de integração sensorial é usado para engajar a criança ativamente em atividades de estimulação sensorial num contexto significativo e autodirecionado.
A terapia de Integração Sensorial possui vários equipamentos, mas neste trabalho a ênfase foi dada aos materiais suspensos, pela falta de pesquisa que envolve o assunto. Em geral, os equipamentos suspensos, segundo Ayres (1995), Long e Cintas (2001) são utilizados para a estimulação vestibular, o que ajuda a unificar os outros sistemas sensoriais. A escolha do material utilizado depende da criança e da quantidade de estímulos que ela necessita, é a criança que vai mostrar a sua evolução para os equipamentos mais instáveis.
Segundo Carvalho (2002), os estímulos vestibulares são usados para desafiar as respostas de estabilidade e de equilíbrio, e para facilitar o tono. A estimulação dos vários receptores vestibulares é obtida por movimentos rotatórios e lineares, especialmente os que incluem aceleração e desaceleração, e por posições diferentes da cabeça. São esses os movimentos conseguidos com os equipamentos suspensos.
Segundo Carvalho (2002), Long e Cintas (2001), a aceleração e desaceleração podem ser obtidas balançando o paciente em um balanço ou rede. A plataforma é usada para gerar respostas de equilíbrio, o rolo e cavalo promovem o planejamento motor e segurança gravitacional. E o disco de flexão promove ajustes tônicos.
Os principais equipamentos suspensos mostrados neste trabalham foram: balanço, plataforma, cavalo, rede e disco de flexão. Onde foram mostrados diferentes materiais, adaptações e várias maneiras de disposições dos equipamentos nas salas, dependendo da necessidade do paciente e do objetivo do terapeuta. Os equipamentos podem ser feitos por materiais diversos (como tecido, plástico, couro, madeira, pneu etc) e por fixações em ganchos no teto ou em estruturas de madeira e ferro que possam sustentar todo o equipamento. Existem empresas especializadas na fabricação desses equipamentos.
Experimentos com animais mostraram que um ambiente enriquecido ajuda o cérebro a se recuperar de dano nos neurônios e a desenvolver funcionalmente saudável. Precisam-se ser recuperados, os neurônios danificados devem ser usados, tal como no desenvolvimento normal, o desenvolvimento depende do uso. Se o sistema visual estiver danificado, estimulação visual é necessária para a recuperação da visão, se o dano estiver nas partes do cérebro que processa o som, o cérebro necessita de experiências de audição para organizar novas funções auditivas. Entretanto, ao mesmo tempo, experiências vestibulares e táteis têm um efeito benéfico através de todo o sistema nervoso (Ayres, 1995).
Segundo Levitt (2001) muitos, senão todos os quadros musculares e articulares encontrados na Paralisia Cerebral, originam-se na falta de influências coordenadoras do cérebro. Em outras palavras, os mecanismos neurológicos de postura, equilíbrio e movimento estão desorganizados. Portanto, os músculos que são ativados para controlar a postura, o equilíbrio e o movimento tornam-se descoordenados, rígidos e fracos.
A lesão cerebral na Paralisia Cerebral pode ser responsável também por distúrbios dos sentidos especiais da visão e audição, anormalidades da fala e linguagem e aberrações de percepção. Distúrbios perceptivos ou agnosias são dificuldades em reconhecer objetos ou símbolos. Também podem haver apraxias, algumas das quais são também denominadas distúrbios visuomotores. Isto significa que a criança é incapaz de realizar certos movimentos, mesmo que não haja paralisia, porque os padrões ou engramas foram perdidos ou não se desenvolveram. A apraxia pode envolver movimentos membros, face, olhos, língua ou estar restrita especificadamente a atos como a escrita, desenho e construção ou mesmo o ato de vestir-se. Em outras palavras, parece haver um problema no planejamento motor das crianças que são apráxicas. Crianças com Paralisia Cerebral também podem ter vários problemas de comportamento, como hipercinesia e facilidade em distrair-se, que tem origem na lesão cerebral orgânica. Todos estes distúrbios resultam em problemas de aprendizagem variados e dificuldades de comunicação. Além disso, pode haver também várias epilepsias ou déficits intelectuais (Levitt, 2001).
Nem toda criança apresenta algumas ou todas estas deficiências associadas. Mesmo que as deficiências fossem apenas físicas, a pobreza de movimentos resultantes impediria a criança de explorar o ambiente completamente. Ela está, portanto, limitada na aquisição de sensações e percepções das coisas cotidianas. Uma criança pode então aparentar distúrbios de percepção, que podem não ser orgânicas, mas causados pela falta de experiência. A mesma falta de experiências cotidianas retarda o desenvolvimento da linguagem e afeta a fala da criança. Sua compreensão geral pode sofrer, isto pode ir longe a ponto de uma inteligência normal ser camuflada por uma deficiência física severa, além disso, a falta de movimento pode afetar o comportamento geral da criança. Assim, alguns comportamentos anormais podem ser decorrentes da falta de experiências sociais e emocionais satisfatórias para as quais o movimento é necessário (Levitt, 2001).
Há uma hipótese de Kreutzberg, citado por Michel e Babey (1997), que diz que o estímulo vestibular estimula o amadurecimento neurosináptico em alguns tractos inibitórios e que os reflexos indesejados são assim inibidos com mais rapidez. Assim, a reação ao movimento vem mais rápido.
Existe uma relação importante entre a informação sensorial advinda dos proprioceptores e os mecanismos de regulação da postura. Esta relação é muita intensa e vem sendo confirmada pelo estudo de diversos pesquisadores, como Bergin e col., citado por Bass (2000), que afirma que é mais que evidente que a propriocepção é o mais importante impulso sensorial para controle da postura em seres humanos. Por outro lado, sabemos que não só o estímulo proprioceptivo que faz a regulação da postura, para Wolfson e col., citado por Bass (2000), o equilíbrio postural usa informações sensoriais na forma de estímulos vestibulares, visuais e proprioceptivos. Estes impulsos são processados por estruturas neurais, que produzem resposta motora organizada que reflexamente restitui o alinhamento postural. Assim, tanto o sistema visual quanto o vestibular, contribuem efetivamente para o controle da postura, principalmente, quando há alguma alteração no sistema proprioceptivo. Porém, para Blouin e col., citado por Bass (2000), a exclusiva informação vestibular não terá utilidade para o propósito de orientação corporal.
Os Drs Roger Walsh da Universidade Stanfort e Robert Cummins da Universidade de Queensland, citado por Ayres (1995), revisaram um grande número de estudos sobre ambientes terapêuticos. Eles descobriram que o fator crítico na recuperação era a interação física ativa com o ambiente sensorial. Quando o indivíduo simplesmente recebia a estimulação sensorial passivamente, o seu cérebro não se recuperava. O cérebro deve direcionar sua própria recuperação através da adaptação à estimulação e fornecimento de mais estímulos para si próprio. Ninguém pode fazer isso por ele. O mesmo se aplica à terapia para crianças com disfunções integrativas sensoriais.
Piaget, citado por Ayres (1995), enfatizou que o estímulo e a resposta eram circulares, em um ambiente onde existem muitos estímulos, o indivíduo responde freqüentemente e de mais diferentes maneiras, e cria uma quantidade e variedade maior de estimulação para si mesmo. Durante a terapia integrativa sensorial, as crianças freqüentemente aprendem acidentalmente habilidades ou comportamentos específicos, mas estes específicos não são o objetivo. Ao invés disso, o que se quer são atividades físicas que produzam sensações que levem a respostas adaptativas, e as quais forneçam mais sensações que provoquem respostas adaptativas ainda mais complexas. Deste modo, o cérebro melhora a sua eficiência geral de funcionamento.
A criança portadora de Paralisia Cerebral por todo o seu comprometimento físico, não recebe toda estimulação que uma criança normal receberia, portanto é uma criança com disfunção da Integração Sensorial, a terapia de Integração Sensorial para essas crianças, segundo Ayres (1995), funcionaria porque o ambiente terapêutico é preparado de forma que é divertido para a criança usar os seus processos sensoriais de uma forma que ela jamais usaria antes, a terapia é uma maneira de fazer o que a natureza, a criança e a sua mãe não foram capazes de fazer.
A Integração Sensorial, segundo Long e Cintas (2001) baseia-se em três princípios básicos: os indivíduos são capazes de receber informações de seus corpos e do ambiente, processar e interpretar essas informações em seu sistema nervoso central e usá-las de forma funcional. Segundo, os indivíduos com problemas de processamento sensorial terão dificuldades em planejar e realizar atos motores. Terceiro, se o individuo com disfunção do processamento sensitivo receber estimulação sensitiva em um contexto significativo, integrará as informações sensitivas e, desta forma, demonstrará habilidades motoras mais eficientes, bem como comportamentos adaptativos. E o equipamento de integração sensorial é usado para engajar a criança ativamente em atividades de estimulação sensorial num contexto significativo e autodirecionado.
A terapia de Integração Sensorial possui vários equipamentos, mas neste trabalho a ênfase foi dada aos materiais suspensos, pela falta de pesquisa que envolve o assunto. Em geral, os equipamentos suspensos, segundo Ayres (1995), Long e Cintas (2001) são utilizados para a estimulação vestibular, o que ajuda a unificar os outros sistemas sensoriais. A escolha do material utilizado depende da criança e da quantidade de estímulos que ela necessita, é a criança que vai mostrar a sua evolução para os equipamentos mais instáveis.
Segundo Carvalho (2002), os estímulos vestibulares são usados para desafiar as respostas de estabilidade e de equilíbrio, e para facilitar o tono. A estimulação dos vários receptores vestibulares é obtida por movimentos rotatórios e lineares, especialmente os que incluem aceleração e desaceleração, e por posições diferentes da cabeça. São esses os movimentos conseguidos com os equipamentos suspensos.
Segundo Carvalho (2002), Long e Cintas (2001), a aceleração e desaceleração podem ser obtidas balançando o paciente em um balanço ou rede. A plataforma é usada para gerar respostas de equilíbrio, o rolo e cavalo promovem o planejamento motor e segurança gravitacional. E o disco de flexão promove ajustes tônicos.
Os principais equipamentos suspensos mostrados neste trabalham foram: balanço, plataforma, cavalo, rede e disco de flexão. Onde foram mostrados diferentes materiais, adaptações e várias maneiras de disposições dos equipamentos nas salas, dependendo da necessidade do paciente e do objetivo do terapeuta. Os equipamentos podem ser feitos por materiais diversos (como tecido, plástico, couro, madeira, pneu etc) e por fixações em ganchos no teto ou em estruturas de madeira e ferro que possam sustentar todo o equipamento. Existem empresas especializadas na fabricação desses equipamentos.
http://www.fisioterapia.com.br/publicacoes/tcctispcaaes.asp
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