E a escola o que pode fazer pelo disléxico?por Maria Inez Ocaña De Luca*
É claro que a ajuda ao disléxico se inicia na família, mas sem a participação da escola esta ajuda dificilmente se concretiza em bons resultados acadêmicos.
A legislação é extensa e o acesso a ela está organizado e disponível no site da ABD. Em uma destas diretrizes há um consenso de que a escola deve adaptar-se às necessidades do aluno e não o contrário, como se tem visto nas instituições de ensino.
A escola em geral (há exceções) tem buscado a padronização da aprendizagem de nossas crianças. Todos têm que aprender um mesmo conteúdo, num mesmo tempo e da mesma forma.
Isto acontece sem se levar em conta as dificuldades de aprendizagem. Já sabemos, todos nós, que assim não é possível. Cada um de nós tem um caminho para a aprendizagem e esta diferença deveria ser respeitada em todos os níveis escolares (da alfabetização ao doutorado).
O que dizer então dos alunos disléxicos? Eles são lentos, desatentos e requerem uma atenção especial. E esta atenção é plenamente possível e factível.
Então seguem algumas dicas que são ou deveriam ser de conhecimento geral, mas que vale a pena lembrarmos.
- Importantíssimo, Acolhimento.
A escola tem por obrigação ter o conhecimento sobre os distúrbios que possam intervir na aprendizagem e realizar junto ao aluno o acolhimento, tão necessário, mostrando a ele que a escola está ao seu lado e também irá ajudá-lo a superar as dificuldades que surgirem.
- Informação.
A informação sobre a dislexia do aluno deve ser repassada a todos os professores que o acompanham. A escola deve ainda providenciar o nivelamento de conhecimento entre todos os professores, mas principalmente entre aqueles diretamente relacionados ao aluno com dislexia.
- Prevenir discriminação.
O professor em sala de aula deve estar atento para que o aluno disléxico não seja discriminado pelos demais alunos. Se for necessário devem ser passadas informações sobre o distúrbio para a classe como um todo; sempre com a devida precaução de não estar expondo o aluno ou colocando-o em situação vexatória. Buscar sempre incluí-lo em todas as atividades, fazendo com que contribua com o que tiver de melhor: suas habilidades.
- Leitura.
Evitar fazer o aluno ler em voz alta na sala de aula. Todo um trabalho deve ser feito com o aluno e também com a classe para aí sim pedir para que o aluno com dificuldade realize a leitura. E, se for percebido que o aluno entra em sofrimento ao realizar esta tarefa, a leitura deve ser passada para outro colega, até que aquele com dificuldade sinta-se à vontade para fazê-lo, sem deixar que os demais zombem dele antes, durante ou depois da atividade.
- Exemplos.
O conteúdo programático deve ser dado de forma clara e objetiva e devem ser usados exemplos e situações práticas durante toda a aula. Os disléxicos em geral apresentam uma boa percepção e compreensão visual. Tire proveito disso.
- Compreensão da resposta.
Quando o aluno der uma resposta confusa oral ou por escrito, buscar sempre o esclarecimento junto a ele. Investigar o que o aluno quis dizer e o que de fato ele compreendeu do conteúdo solicitado. Esta resposta oral pode ser considerada e se for necessário pode-se até buscar testemunhas que atestem esta compreensão. Estas testemunhas podem ser outros professores, alunos ou funcionários da escola.
- Leitura da prova.
O aluno disléxico apresenta dificuldades na decodificação, portanto dificuldade na leitura. Caso o professor realize a leitura das questões ele terá uma compreensão mais rápida e adequada. O aluno terá que se preocupar apenas em lembrar-se da resposta e organizar a escrita da mesma. O que para ele não é pouco. Se esta leitura não for realizada pelo professor, ele terá que fazê-lo por si só e provavelmente repetidas vezes, correndo o risco ainda de cometer erros e desta forma, fazer uma compreensão equivocada o que levaria a uma resposta também equivocada.
- Trabalhos extras.
Considerar sempre que este aluno não tem grandes habilidades para se expressar por escrito, porém tem facilidade com outras formas de comunicação. Utilizar ou fazer com que este aluno utilize estas outras formas. Peça trabalhos complementares onde ele expresse o conhecimento que pode ser através de desenho, colagem, fotografia, maquete, música, danças e outras tantas formas.
- Copiar.
A tarefa de copiar é cansativa para qualquer um, porém para um aluno disléxico esta atividade se mostra como sendo um castigo. Ele em geral não aprende pela repetição e sim pela compreensão. Então sempre que for possível já dê a atividade copiada para o aluno, para que ele somente responda às questões. Dê os recados em forma de bilhete para que ele apenas cole em sua agenda.
- Valorizar.
O disléxico tem gravado em sua mente provavelmente mais insucessos do que sucessos. Então, precisamos valorizar os pequenos acertos, mostrando assim que ele deve persistir. Ele certamente não precisa de ninguém que aponte a todo o momento seus erros e enganos.
- Tempo.
O disléxico é mais lento para processar as informações e consequentemente para registrar respostas, logo é mais lento em provas. Por isso é essencial que seja oferecido mais tempo para realizar as provas e tarefas, conseguindo assim um registro mais fiel ou mais próximo do conhecimento adquirido.
- Prova oral.
Às vezes a dificuldade para se expressar por escrito é tão grande que a melhor opção, tanto para o professor como para o aluno, é a realização da prova oral. Desta forma o disléxico se sai melhor e consegue passar mais detalhes sobre a pergunta realizada. A prova pode ser finalizada em outra sala e até mesmo em outro dia, sem prejuízo para a avaliação.
- Matemática.
Possibilite o uso de tabuada, calculadora e fórmulas escritas. O que o aluno deve ter preservada é a capacidade de raciocínio matemático. Se assim for, poderá utilizar os recursos citados, pois caso não tenha preservada esta habilidade não servirão para nada os recursos oferecidos, pois o aluno não saberá como utilizá-los.
Ao se oferecer todos estes recursos não estamos “passando a mão na cabeça” ou mesmo concedendo privilégios. Trata-se sim de dar condições aos disléxicos de se expressarem na forma em que são mais eficientes.
*Maria Inez Ocanã De Luca, Psicóloga - Membro do CAE e CTAS - ABD (Centro de Avaliação e Encaminhamento e Centro de Triagem de Atendimento Social da Associação Brasileira de Dislexia.
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