sábado, 16 de julho de 2011

Desenvolvimento da Criança dos 0 aos 3 anos

 



Primeiro Ano de Vida

Durante todo o primeiro ano de vida, verifica-se uma completa dependência dos cuidados ambientais. Este período de dependência é mais acentuado nos mamíferos e nas aves, e em especial, nas espécies mais encefalizadas. Ocorrendo a máxima duração na nossa espécie.


Esta é uma relação que traz proveitos para ambos os lados. Se, no caso do bebé, o seu objectivo está ligado à própria sobrevivência pessoal, no caso da progenitora, tal é igualmente uma questão de sobrevivência, mas, neste caso, a sobrevivência dos seus genes.


Após nove meses dentro do útero materno, o bebé estará provavelmente preparado para entrar no mundo exterior. No entanto, mais do que em qualquer outro animal, o desenvolvimento continua muito para além do nascimento, quer a nível intelectual, quer a nível motor. No seu conjunto, o recém-nascido está mais afastado da idade adulta do que as crias da maioria das espécies. De certa maneira, todos nós nascemos prematuros.

Alguns autores defendem que este ritmo atrasado de desenvolvimento é o que mais distintamente nos torna humanos, pois o seu resultado inevitável é um período extenso e prolongado de dependência. Por um lado, tal constitui um grande inconveniente para a criança e para os pais mas, simultaneamente, acarreta grandes benefícios. Com efeito, um período tão longo de dependência justifica-se pelo facto de ser uma criatura cuja principal especificidade é a capacidade de aprender e, invenção básica, a cultura, isto é, os modos de ser e estar no mundo que cada geração transmite para a seguinte. Desta forma, com tanto para aprender, as crianças têm muito a ganhar com o facto de serem forçadas a permanecer junto daqueles que as ensinam.


"O Equipamento do Recém-nascido"
Ao nascer, os bebés têm pouco controlo sobre o seu aparelho motor. Os recém-nascidos possuem reduzidas capacidades de acção: agitam-se duma forma descoordenada e nem conseguem segurar a cabeça. Aos 4 meses de idade, serão capazes de se sentar com apoio e de tentar agarrar objectos que estejam à vista, mas algo que realizam com taxas de insucesso elevadas.


No entanto, o recém-nascido começa a vida com um equipamento neurológico de sobrevivência, um conjunto de reflexos primitivos que o ajudará ao longo desta primeira fase de vida.


Alguns destes reflexos, nos primeiros meses, estão relacionados com o acto de agarrar-se à pessoa que a pega ao colo. Um exemplo é o reflexo de preensão palmar: ocorre quando um objecto toca a palma da mão do bebé, e este procura automaticamente apertar o objecto, sem o largar. Se o objecto é levantado, a criança continua agarrada e é erguida conjuntamente com ele. Este reflexo está relacionado com a herança primitiva dos nossos antepassados primatas, cujas crias se agarram ao corpo peludo das mães.

Outra reflexo diz respeito à alimentação- Reflexo dos pontos cardeais. Ao aproximar algo da face do bebé, a sua cabeça volta-se na direcção da fonte de estimulação, com a boca aberta. A cabeça continua a rodar até que o estímulo, normalmente um mamilo, dedo ou tetina, se encontre dentro da boca. Quando se chega a este ponto, o bebé começa instintivamente a sugar.

Ao fim de poucos meses estes reflexos extinguem-se. Nalguns casos, o reflexo acaba por ser substituído por uma resposta consciente. Por exemplo, o reflexo de preensão palmar desaparece por volta dos três ou quatro meses de idade, o que não significa que deixem de agarrar coisas com a mão. Por essa altura, fazem-no, mas de uma forma voluntária. Estes actos voluntários não podem ser executados, mesmo desajeitadamente, antes de várias partes do córtex cerebral terem atingido um nível de maturidade suficiente para os tornar possíveis. Até essa altura, os reflexos do bebé funcionam enquanto um substituto temporário.

A capacidade sensorial do bebé
Enquanto as capacidades motoras dos bebés são, inicialmente, muito limitadas, os canais sensoriais funcionam, desde logo, bastante bem. Tal é amplamente comprovado nas mudanças dos ritmos de respiração, de mamar e de índices semelhantes de resposta à estimulação.

Os recém nascidos têm uma audição apurada. Conseguem discriminar entre tons de diferentes alturas e intensidades; possuem uma certa tendência para responder a uma voz humana suave, especialmente feminina, preferencialmente a outros sons. Conseguem ver, apesar de um tanto "míopes" e incapazes de focar objectos a distâncias maiores do que cerca de um metro e vinte; podem discriminar facilmente brilho e cor e seguir um estímulo móvel com os olhos. Além disso, são sensíveis ao tacto, aos odores e ao paladar.

Desenvolvimento Emocional / Social
Os instintos e reflexos inatos giram, antes de mais nada, à volta da ingestão de alimentos e à satisfação das necessidades básicas. Consequentemente, existe uma enorme dependência da mãe, com a qual o recém-nascido mostra-se quase fundido, ainda sem grande capacidade de individualidade e autonomia. A comunicação com a mãe (ou outro adulto de referência) proporciona à criança segurança.

O sentimento de aceitação incondicional por parte da mãe é um factor indispensável ao desenvolvimento da confiança. Na ausência de uma relação duradoura com uma pessoa (para alimentação, cuidados, contacto da pele), pode resultar a retirada para dentro de si mesmo, ou indiferença.
Se no início, a criança sente a mãe como parte de si mesma, no culminar do primeiro ano, ela aprende a vivenciar a mãe como objecto separado (com identidade e papel próprios). Aprende a esperar (tolerância à frustração) e, desta capacidade de espera resulta o ecoar interno de uma representação da mãe.
Mas, esses momentos de crescimento só serão possíveis se esta etapa for suficientemente preenchida de boas experiências emocionais, que permitam ao bebé um modelo de estabilidade e segurança, previsível e contínuo. Ganham os bebés que se ligam bem aos adultos mais próximos, e com eles constróem uma relação de confiança básica, marcada por um padrão rotineiro, sem períodos de separações traumáticas ou perdas de figuras de referência. Perdem aqueles que, por oposição, possuírem vinculações inseguras, marcadas pela instabilidade ou, por múltiplos prestadores de cuidados.

Esta vinculação pode ser indicadora da qualidade das ligações emocionais futuras da criança. Aquelas cuja ligação com a mãe ocorreu de modo seguro, estão naturalmente mais aptas a gostar de ir à escola, aprender, brincar, receber e visitar amigos, e um dia namorar, casar, terem a sua família organizada. Tal é possível devido a uma confiança básica em si e no mundo adquirida precocemente.
É também pelas pequenas frustrações do dia-a-dia que a criança continua a crescer. Nenhum adulto satisfaz 100% no que diz respeito à capacidade de resposta das necessidades das crianças. Dentro de certos limites, é por uma boa dose de frustração (desapontamento, desilusão) que o bebé reconhece cada vez mais os seus limites, bem como os dos outros que dela cuidam, e sai, pouco a pouco, de uma posição omnipotente.
É igualmente aconselhável que, durante o primeiro ano de vida, o bebé possa ocupar o seu espaço privado num quarto próprio. Para que, pouco a pouco, se possa adaptar a pequenos sinais da sua autonomia emocional e social.

Neste Estádio de Desenvolvimento, os bebés aprendem, principalmente, através dos sentidos, e são, fortemente, afectados pelo aqui e agora. Daí a importância de lhes assegurar um meio sensorial rico e responsivo de modo a promover o desenvolvimento da inteligência das crianças.

Actividade Lúdica do Bebé
O bebé precisa de se adaptar a um mundo novo mas, para tal, necessita de conhecê-lo e compreendê-lo. Por natureza, as crianças são muito curiosas, possuindo um desejo natural de compreender tudo o que se passa à sua volta, embora seja limitado pelas suas reduzidas capacidades motoras, que restringem as suas possibilidades de exploração.


Como se tem verificado, desde o primeiro momento, a capacidade perceptiva e a inteligência do bebé actuam em consonância com o ambiente. Um bebé, deitado no berço, verifica que, ao mexer-se, o móbil também se mexe. A partir daí, repete o mesmo movimento, porém, agora de forma objectiva e consciente. Dado que o bebé, nesta etapa, se encontra maioritariamente deitado, a decoração da cama do bebé estimula a sua inteligência. Obviamente que, à medida que vai crescendo, tal estende-se a outros espaços.

Aos 4 meses, a criança consegue controlar de forma mais eficaz os seus movimentos podendo, com razoável precisão, aproximar a mão dos objectos, desde que estes estejam próximos. Então, o chocalho que ela sacode e produz som, o brinquedo que ela morde, a grade do berço, etc., cada objecto próximo adquire vida e estimula-a para novas e ricas experiências.

Nestas idades é muito comum brincar com o abrir e fechar os olhos, o que, para a criança, representa perder o mundo ou possuí-lo. Uma boa forma de estimulação que a criança pode realizar com o adulto é a tradicional brincadeira de esconder a cara com algo, e depois reaparecer.

O atirar objectos para o chão, actividade que tanto aborrece os adultos, mas que diverte imensamente as crianças, acaba por ser uma experiência que o bebé faz com o objecto e com o adulto, numa relação causa/efeito, em que o atirar o objecto causa o seu desaparecimento e respectivo barulho na queda, e a respectiva reacção na cara dos adultos...

No segundo semestre de vida, o bebé descobre um novo e maravilhoso brinquedo: os seus pequenos dedos, e a sua capacidade para entrar em objectos ocos. Geralmente, os "receptáculos" preferidos para os seus dedos são os olhos, ouvidos, a boca (sua e das pessoas à volta), etc. Nesta fase, a criança passa a explorar tudo o que seja possível meter lá um dedo (atenção às tomadas eléctricas...).

O bebé sente prazer em explorar, manipular, encaixar, descobrir, construir... O desejo de aprender e conhecer é evidente em todos os bebés saudáveis. No início da vida, cada gesto e acto executado actua de forma permanente na construção da sua inteligência e desenvolvimento. A curiosidade faz parte da natureza humana, e caminha, lado a lado, com os interesses e necessidades de cada indivíduo, influenciando-o.

Verifica-se em alguns adultos, que estes "podam" a curiosidade natural das crianças, impedindo-os de tocar, sentir e experimentar determinados objectos. A repetição constante do NÃO e a punição física em resposta a esse desejo natural da criança poderá trazer, como consequência para o seu desenvolvimento os seguintes problemas:
- Baixo Q.I.;
- Futuros problemas na aprendizagem;
- Insegurança;
- Retraimento, timidez, medo do desconhecido;
- Intolerância à frustração;
- Chamadas de atenção pela negativa;
-Baixo auto-conceito/auto-estima;
- Entre outros.

Uma criança pequena não tem noção do perigo, e é óbvio que ela também precisa de aprender o NÃO, mas ao mesmo tempo precisa de estímulos para crescer, aprender e compreender tanto objectos, como pessoas, que fazem parte do seu mundo.


A Criança Aprende a Brincar!
É a brincar que a criança aprende o que mais ninguém lhe pode ensinar. É dessa forma que ela se estrutura e conhece a realidade. Além de estar a conhecer o mundo, está-se a conhecer a si mesma. Ela descobre, compreende o papel dos adultos, aprende a comportar-se e a sentir-se como eles. Não são necessários muitos brinquedos para o bebé brincar, antes pelo contrario, o poder da imaginação e da criatividade é enorme.


Ideias para estimulação do Bebé
1º. mês - Converse ou cante para o bebé. O som da sua voz é reconfortante e transmite-lhe segurança.
Faça massagens à criança, estimule cada parte do corpo dela: pés, mãos, costas, rosto. Pode-se colocar música suave e revelar, através deste contacto físico, os seus sentimentos por ele pois, o toque das mãos transmite amor, carinho e segurança.
2º mês - Apresente objectos grandes e coloridos para que ele possa brincar e tentar alcançá-los com as mãos.
Junto ao berço coloque um móbil colorido dentro do campo de visão do bebé.
3º. mês - Cante, faça gestos e expressões faciais. O bebé tentará imitar e responderá aos estímulos com sorrisos e ruídos.
Estimule o tacto do bebé com objectos de diferentes texturas. Ex.: passar no pé ou na mão dele uma pluma e observar as reacções; encostar na mão algo áspero e depois macio. Coloque-o sentado apoiado por almofadas.
4º. mês - Conte histórias curtas e imite o barulho dos animais com diferentes tons de voz. O bebé tentará imitar.
Mande-lhe brinquedos (bolas, dados) para ele tentar agarrar.
5º. mês - Deixe-o brincar com brinquedos macios, como mordedores, pois tudo que ele agarrar, vai levar à boca.
Coloque músicas de diferentes ritmos e dance com ele.
Espalhe brinquedos à sua volta deixe-o a brincar no chão.
6º. mês - Durante as refeições relate ao bebé o que ele está a comer. Mostre-lhe os alimentos.
Nesta fase, convide a criança para passear, e espere que ela lhe estenda os braços.
Imite o barulho dos animais e objectos, como gatos, telefone, estimulando-o a fazer o mesmo. Ao ar livre, deixe-o próximo das árvores, para que ele observe o balancear o e barulho das folhas.

7º. mês – Proporcione à criança a manipulação de brinquedos que façam barulho, de diferentes cores, formas e tamanhos. Coloque-os próximos do bebé e estimule-o de modo a ele ir buscá-los.
Ensine-o a dizer adeus. Em pouco tempo repetirá os gestos dos adultos.
8º. mês - Brinque às escondidas com uma toalha ou cortina. Permita que a criança mande objectos para o chão. Ele repetirá inúmeras vezes este movimento. Desta forma, está-se a fomentar a noção de causa e efeito.
Conte histórias, mostrando as imagens do livro.
9º. mês - Deixe perto do bebé brinquedos grandes e coloridos. Ensine-o a empilhá-los e a encaixá-los.
Quando junto do bebé, relate-lhe tudo o que faz. Ele começará a repetir sílabas. Converse sobre animais e imite o barulho dos mesmos.
10º. mês - Converse com o bebé e dê-lhe alternativas. Por exemplo: "Queres o urso ou a bola". Assim ele apontará o que quer e muitas vezes irá chorar se não for atendido.
Dance e cante com ele no colo, ele tentará imitar a coreografia e soltará os seus monossílabos.
Dê-lhe um telefone de brinquedo. Assim, está a incentivar a linguagem.
11º. mês - Participe nas brincadeiras da criança.
Deixe à mão objectos que possam ser colocados e retirados de uma caixa ou balde.
Chame a atenção dele para objectos e animais conhecidos e também para as novidades.
Estimule-o a beber água em copos ou com o auxílio de palhinhas.
12º mês - Cante e conte histórias. Disponibilize livros e revistas para manusear. Incentive-o a comer sozinho e a guardar brinquedos.
Ele já entende ordens curtas, portanto explique-lhe tudo: o que estão a fazer, onde vão, etc... Brinque às escondidas ou à apanhada com a criança. Jogue à bola com ela.


Segundo / Terceiro Ano
Depois do primeiro ano, existem três marcos evolutivos do desenvolvimento da criança:
- O aparecimento da marcha;
- O início da linguagem (sobretudo a possibilidade de dizer "não");
- E o controlo dos esfíncteres, que representa a possibilidade de entre os 2 e os 3 anos prescindir-se do uso de fraldas.

Com a aprendizagem da marcha e da linguagem, a criança adquire, de forma progressiva, a sua independência motora, ficando muito mais apta a explorar o que a rodeia. Nesta fase, a capacidade de tolerar a distância e a ausência dos pais é maior, mas ainda não é substancial. Para que exista uma presença emocional dos pais na vida psíquica da criança, a sua presença é ainda muito necessária.
Por esta altura, a criança começa a andar, sobe e desce escadas, vai para cima dos móveis, etc. - o equilíbrio é inicialmente bastante instável, uma vez que os músculos das pernas ainda não estão bem fortalecidos. Contudo, a partir dos 16 meses, o bebé já é capaz de caminhar e de se manter de pé em segurança, com movimentos muito mais controlados. Verifica-se igualmente uma melhoria da motricidade fina devido à prática - capacidade de segurar um objecto, manipulá-lo, passá-lo de uma mão para a outra e largá-lo deliberadamente. Por volta dos 20 meses, será capaz de transportar objectos na mão enquanto caminha.

Após o segundo aniversário, e à medida que o seu equilíbrio e coordenação aumentam, a criança é capaz de saltar, andar ao pé-coxinho ou saltar de um pé para o outro quando está a correr ou a andar. É mais fácil manipular e utilizar objectos com as mãos, como um lápis de cor para desenhar ou uma colher para comer sozinha.

No segundo ano de vida, a linguagem começa igualmente a desenvolver-se e, a possibilidade de dizer "não", "eu" e "meu" surge como a expressão do eu próprio em oposição ao outro. Verifica-se uma grande mudança na consciência que a criança tem de si própria.
Após os 15 meses, verifica-se uma maior capacidade de compreensão das ordens impostas, inicialmente com o recurso de gestos, depois, sem os mesmos. Começa a conseguir acompanhar ordens simples, do género "Dá-me o brinquedo".
Uma vez que este é o período em que as crianças estão mais abertas à aprendizagem da linguagem, os adultos que falam muito com elas, que lhes lêem, ensinam canções e poemas infantis (por outras palavras, que usam a linguagem para comunicar com elas) têm um efeito marcante no seu desenvolvimento linguístico.
As inter-relações pessoais também ajudam as crianças a distinguir quais os comportamentos adequados e quais não são. À medida que o seu comportamento se torna cada vez mais complexo durante o segundo ano de vida, a criança vai aprendendo com as expressões faciais dos adultos, com o seu tom de voz, gestos e palavras, quais os tipos de comportamento que geram aprovação e quais geram reprovação. Os padrões geram-se através do dar e receber entre as crianças e os adultos que cuidam delas. Contudo, e a par do comportamento, são também muito importantes as emoções, os desejos e a auto-imagem em formação.

A partir dos 24 meses, surge a idade dos "Porquês?" À medida que se desenvolvem as suas competências linguísticas, a criança começa a exprimir-se de outras formas, que não apenas a exploração física - trata-se de juntar as competências físicas e de linguagem (por ex., quando faço isto, acontece aquilo), o que ajuda ao seu desenvolvimento cognitivo. É capaz de produzir regularmente frases de 3 e 4 palavras. A partir dos 32 meses, é já capaz de conversar com um adulto usando frases curtas e de continuar a falar sobre um assunto por um breve período. Ocorre igualmente um desenvolvimento da consciência de si: a criança pode referir-se a si própria como "eu" e pode conseguir descrever-se por frases simples, como "tenho fome".


No seu processo de evolução, por volta dos dois anos/dois anos e meio, vai-se verificar a capacidade de criar imagens mentais (aquilo a que chamamos símbolos, ideias). Tal leva à compreensão dos conceitos - progressivamente, e com a ajuda dos adultos, vai sendo capaz de compreender conceitos como dentro e fora, cima e baixo. Por volta dos 32 meses, começa a apreender o conceito de sequências numéricas simples e de diferentes categorias (o que mais tarde lhe permitirá o contar até 10; formar grupos de objectos - 10 animais de plástico podem ser 3 vacas, 5 porcos e 2 cavalos, etc.).

Por esta altura, as brincadeiras que implicam o fazer de conta ou a imaginação e que envolvem dramas humanos (por ex., bonecos a abraçar-se ou a lutar) ajudam a criança a aprender a relacionar uma imagem ou representação com um desejo, e depois usar essa imagem para pensar.

Surge então a capacidade de auto-observação. Esta capacidade é fundamental para o autocontrolo de actividades tão simples como pintar dentro ou fora dos riscos de um desenho, ou fazer corresponder imagens com números. A auto-observação também ajuda a estabelecer relações de empatia com os outros e a corresponder a expectativas.

Nesta fase, a criança irá investir muito na medição das suas posses, limites (de que algumas birras são exemplo), bem como em comportamentos omnipotentes, de risco ou de oposição. Embora seja um aspecto fundamental em todo o desenvolvimento, é uma altura em que se torna maior a importância das regras e limites estabelecidas às e com as crianças.

As birras são uma das formas mais comuns da criança chamar a atenção, e podem dever-se a mudanças ou a acontecimentos, ou ainda a uma resposta aprendida (costumam estar relacionadas com a frustração da criança e com a sua incapacidade de a comunicar de forma eficaz).

Frequentemente, existe uma tendência dos pais em facilitar-lhes tudo, devido a uma culpabilidade inconsciente que sentem em não passarem com os seus filhos o tempo que consideram ideal, considerando-se que conter, frustrar, contrariar ou proibir pode prejudicar a criança.

Mas, o que se verifica é que as crianças mais inseguras e com um maior sentimento de desprotecção são aquelas que, desde pequenas, não lhes foram passadas regras nem limites por uma entidade protectora.

Bases para a aprendizagem da disciplina
A seguir ao amor, o que de mais importante podemos dar a uma criança são os limites. Toda a aprendizagem, mesmo a dos limites e da organização, começa com o carinho, a partir do qual as crianças aprendem a confiar, a sentir calor humano, intimidade, empatia e afeição pelos que a rodeiam. Os limites e a organização começam com o afecto, pois 90% da tarefa de ensinar as crianças a interiorizarem os limites baseiam-se no desejo dela de agradar ao "outro". Elas sentem este desejo por diferentes razões: porque amam as pessoas que cuidam delas e querem a sua aprovação e o seu respeito e/ ou porque têm medo.

As crianças aprendem também a modelar as suas atitudes a partir das de quem está com elas. A moral desenvolve-se a partir da tentativa de querer ser como um adulto admirado.

Um dos problemas associados às regras e limites fundamentalmente estabelecidos a partir do medo prende-se com a impossibilidade da figura de autoridade estar sempre junto da criança, o que faz com que, na sua ausência, a criança não sinta medo da punição. Por outro lado, o excesso de medo pode criar na criança ansiedade e inibição na maior parte das situações, chegando ao ponto de inibir formas saudáveis de expressão

Quando a disciplina é estabelecida como uma aprendizagem e é reforçada, com muita empatia e carinho, as crianças sentem-se bem por seguirem as regras. A sensação de saber que se é "o menino dos olhos" de alguém é muito agradável. Quando essa criança sentir o olhar de desapontamento por um comportamento incorrecto, vai possuir uma sensação de perda porque não recebe o olhar carinhoso de quando se porta bem. Se nunca tivesse sentido tal, não haveria sensação de perda ou de frustração que a motivasse interiormente a modificar o comportamento.

Os castigos corporais não são uma boa alternativa à disciplina. Ela tem a ver com ensinar, não com o punir. Os castigos corporais não respeitam a criança e tendem a danificar a sua auto-imagem. Além disso, estamos a transmitir à criança a imagem de que, em determinadas situações, os problemas podem ser resolvidos através da violência. Medidas como a contenção, o isolamento, o afastamento são mais eficazes. Apesar de tudo, é necessário ver que a disciplina é uma tarefa a longo prazo. O objectivo é ensinar a criança a controlar os seus próprios impulsos.

Ao nível da socialização, a criança aprecia a interacção com adultos que lhe sejam familiares, imitando e copiando os comportamentos que observa. No entanto, vai verificando-se um aumento progressivo da autonomia: sente satisfação por estar num grupo de crianças, necessitando apenas de confirmar ocasionalmente a presença e disponibilidade do(s) adulto(s) de referência - esta necessidade aumenta em situações novas, surgindo uma maior dependência quando é necessária uma nova adaptação.

As suas interacções com as outras crianças são ainda limitadas: as suas brincadeiras decorrem sobretudo em paralelo e não em interacção com elas. A partir dos 20-24 meses, e à medida que começa a ter maior consciência de si própria, física e psicologicamente, começa a alargar os seus sentimentos sobre si própria aos outros - desenvolvimento da empatia (começa a ser capaz de pensar sobre o que os outros sentem).

Inicialmente, o leque de emoções é vasto, desde o puro prazer até à raiva frustrada. Embora a capacidade de exprimir livremente as emoções seja considerada saudável, a criança necessitará de aprender a lidar com as suas emoções e de saber que sentimentos são adequados, o que requer prática e ajuda dos adultos.

No decorrer do terceiro ano de vida, começa a verificar-se como tema comum de brincadeira a imitação e tentativa de participar nos comportamentos dos adultos: por ex., lavar a loiça, maquilhar-se, etc.


Controlo dos esfíncteres
Com cerca de dois anos de idade, inicia-se o processo de ensino do controlo dos músculos que permitem a possibilidade de contenção e expulsão das fezes e da urina (controlo dos esfíncteres). E, simultaneamente, a aprendizagem da limpeza do corpo. Travam-se as "lutas" do bacio. Do ponto de vista da criança, tal implica uma renúncia, um "favor" que se presta à mãe. Os pais desejam que a criança passe a utilizá-lo sempre que sente necessidade e esta vai aproveitar a possibilidade de controlo para os seus momentos de oposição e jogos de afirmação. É um momento importante do desenvolvimento e é de salientar que poderá provocar na criança muita ansiedade, sobretudo quando há excessiva rigidez na educação (chegando-se por vezes ao castigo quando a criança não controla). É desejável que este processo seja realizado com tranquilidade, aceitando o ritmo de cada uma.

É de evitar um exagero na necessidade de limpeza. Nalguns casos, a associação entre sexo e "porcaria" poderá mais tarde, no adulto, repercutir-se como uma não aceitação do seu próprio corpo, dos seus cheiros e líquidos, o que eventualmente, levará a manifestações negativas nas suas vivências afectivas e comportamentos mais íntimos.

Um comentário: