sábado, 22 de setembro de 2012

Sondagem do Desenho Infantil


Sondagem do Desenho Infantil

Desenho Infantil

“Só se aprende a fazer, fazendo;


só se aprende a desenhar, desenhando”

Toda criança desenha. Pode ser com lápis e papel ou com caco de tijolo na parede. Agir com um riscador sobre um suporte é algo que ela aprende por imitação – ao ver os adultos escrevendo ou os irmãos desenhando. Com a exploração de movimentos em papéis variados, a criança adquire coordenação para desenhar.
O desenho parece surgir de forma espontânea e evoluir ao processo de desenvolvimento global da criança. Também é uma tentativa de comunicação formal e um meio de representação e simbolização. A criança expressa em seu grafismo aquilo que ainda não consegue com outras linguagens, por exemplo, a fala ou a escrita.
A criança constrói ao longo dos primeiros anos de seu desenvolvimento a capacidade de figurar e de expressar-se por diferentes linguagens e, exerce essa habilidade livremente através do desenho, da imitação, da dança e das brincadeiras de faz-de-conta.
No início de seu desenvolvimento cognitivo, o desenho é para a criança uma atividade lúdica, que amplia suas capacidades imaginativas e representativas. Ao iniciar seus rabiscos ainda na fase da garatuja, a criança vai percebendo as possibilidades daqueles traços e, essa exploração, de natureza inicialmente motora, vai possibilitando a ampliação de sua representação das coisas.
O desenho evolui conforme o pensamento da criança evolui. Seu traçado, tipo de desenho, e temática expresssam como a criança pensa, como vê o mundo, seus sentimentos e organização interna. A oportunidade de desenhar é importante para estimular a expressão, criatividade, o desenvolvimento intelectual e a conquista de outras linguagens, como por exemplo, a escrita que, “por ser um sistema de representação, está claramente vinculada com o desenho, sendo este uma preparação para alfabetização” (Pillar, 1996, p.32). Ou seja, o desenho permite à criança ao exercício de um tipo de simbolização gráfica que possui uma relação direta com a realidade, e que constituirá a base que, mais tarde, possibilitará que a criança possa construir a escrita, outro tipo de representação gráfica, mais abstrata e arbitrária, e que não guarda uma relação direta com o mundo físico.
Ao final do seu primeiro ano de vida, a criança já é capaz de manter ritmos regulares e produzir seus primeiros traços gráficos, fase conhecida como dos rabiscos e garatujas.
O desenvolvimento progressivo do desenho implica mudanças significativas que, no início, dizem respeito à passagem dos rabiscos iniciais da garatuja para construções cada vez mais ordenadas, fazendo surgir os primeiros símbolos. Essa passagem é possível graças às interações da criança com o ato de desenhar e com desenhos de outras pessoas. Na garatuja a criança tem como hipótese que o desenho é simplesmente uma ação sobre uma superfície, e ela sente prazer ao constatar os efeitos visuais que essa ação produziu. Mais cedo ou mais tarde, todos os pequenos se interessam em registrar no papel algo que seja reconhecido pelos outros. No começo, é comum observar o que se convencionou chamar de boneco girino, uma primeira figura humana constituída por um círculo de onde sai um traço representando o tronco, dois riscos para os braços e outros dois para as pernas. Depois essa figura incorpora cada vez mais detalhes, conforme a criança refine seu esquema corporal e ganhe repertório imagético ao ver desenhos de sua cultura e dos próprios e dos próprios colegas.

Piaget dividiu a evolução do desenho infantil, em cinco estágios:

1 – Garatuja: a criança demonstra extremo prazer e a figura humana é inexistente. A cor tem papel secundário, aparecendo o interesse pelo contraste. Pode ser dividida em:

Desordenada: movimentos amplos e desordenados. Ainda é um exercício. Não há preocupação com a preservação dos traços, sendo cobertos com novos rabiscos várias vezes. Não há representação no desenho. Os traços podem ser leves ou fortes. Muitas vezes não respeita os limites do papel desenhando nas mesas e carteiras.

Ordenadas: movimentos longitudinais e circulares; coordenação viso-motora. Figuras humanas de forma imaginária, exploração do traçado, interesse pelas formas. Nessa fase a criança diz o que vai desenhar, mas não existe relação fixa entre o objeto e sua representação. Por isso ela pode dizer que uma linha é uma árvore, e antes de terminar o desenho, dizer que é um cachorro correndo. Relação espacial delimitada.

2 – Pré-esquematismo: descoberta de relação entre desenho, pensamento e realidade. Quanto ao espaço, os desenhos são dispersos inicialmente, não relaciona entre si. Aparecem as primeiras relações espaciais, surgindo devido à vínculos emocionais. A figura humana torna-se uma procura de um conceito que depende do seu conhecimento ativo, inicia a mudança de símbolos. O uso das cores não tem relação com a realidade, depende do interesse emocional.

3 – Esquematismo: esquemas representativos, começa a construir formas diferenciadas para cada categoria de objeto, por exemplo, descobre que pode fazer um pássaro com a letra “V”. Uso da linha de base e descoberta da relação cor / objeto. Já tem um conceito definido quanto a figura humana, porém aparecem desvios do esquema como: exagero, negligência, omissão ou mudança de símbolo. Aparecem fenômenos como transparência e o rebatimento.

4 – Realismo: consciência maior do sexo e autocrítica pronunciada. No espaço é descoberto o plano e a superposição. Abandona a linha de base. Na figura humana aparece o abandono das linhas. As formas geométricas aparecem. Maior rigidez e formalismo. Acentuação das roupas diferenciando os sexos. Aqui acontece o abandono do esquema de cor, a acentuação será de enfoque emocional.

5 – Pseudo Naturalismo: no espaço já apresenta a profundidade. Na figura humana as características sexuais são exageradas, presença de articulações e proporções. A consciência visual ou a acentuação da expressão. Também fazem patê deste período. Uma maior conscientização no uso da cor, podendo ser objetiva ou subjetiva.

Orientações para a sondagem

A sondagem do desenho infantil pode ser realizada coletivamente, desde que cada criança tenha sua folha e material para desenhar e, que o professor não permita intervenções de outros alunos. É aconselhável que nesse momento o professor circule pela sala observando os alunos, não é o momento para realizar tarefas afins.
No desenho da criança não é permitido que se escreva nenhuma observação, nem mesmo nomeie os objetos criados pelos mesmos, porém é necessário que o professor tenha um impresso seu onde possa fazer suas anotações sobre o desenho de cada criança e registrar a fase em que cada um se encontra. Os desenhos juntamente com o impresso preenchido pelo professor deverão fazer parte do portfólio dos alunos.
É aconselhável, ao professor, que ofereça às crianças o contato com diferentes tipos de desenhos e obras de artes, que elas façam a leitura de suas produções e escutem a de outros e também que sugira a criança desenhar a partir de observações diversas (cenas, objetos, pessoas) para que possamos ajudá-la a nutrisse de informações e enriquecer o seu grafismo. Assim elas poderão reformular suas idéias e construir novos conhecimentos.

Curiosidades

Formas de interpretação do desenho infantil

Existem algumas pistas que podem nos orientar sobre o que diz os desenhos das crianças. No entanto, são puramente orientações, pois devemos lembrar que a interpretação de um desenho isolada do contexto em que foi elaborado não faz sentido.

Posição do desenho – Todo desenho na parte superior do papel, está relacionado com a cabeça, o intelecto, a imaginação, a curiosidade e o desejo de descobrir coisas novas. A parte inferior do papel no informa sobre as necessidades físicas e materiais que pode ter a criança. O lado esquerdo indica pensamentos que giram em torno ao passado, enquanto o lado direito, ao futuro. Se o desenho se situa no centro do papel, representa o momento atual.

Dimensões do desenho – Os desenhos com formas grandes mostram certa segurança, enquanto os de formas pequenas parecem ser feitas por crianças que normalmente precisam de pouco espaço para se expressar. Podem também sugerir uma criança reflexiva, ou com falta de confiança.

Traços do desenho – Os contínuos, sem interrupções, parecem denotar um espírito dócil, enquanto o apagado ou falhado, pode revelar uma criança um pouco insegura e impulsiva.

A pressão do desenho – Uma boa pressão indica entusiasmo e vontade. Quanto mais forte seja o desenho, mais agressividade existirá, enquanto a mais superficial demonstra falta de vontade ou fadiga física.

As cores do desenho – O vermelho representa a vida, o ardor, o ativo; o amarelo, a curiosidade e alegria de viver; o laranja, necessidade de contato social e público, impaciência; o azul, a paz e a tranqüilidade; o verde, certa maturidade, sensibilidade e intuição; o negro representa o inconsciente; o marrom, a segurança e planejamento. É necessário acrescentar que o desenho de uma cor só pode denotar preguiça ou falta de motivação.

Significados de alguns desenhos:

Árvore: Refere-se ao físico, emocional e intelectual da criança. Quando o tronco da árvore é alto e largo, revela que a criança tem muita força na superação dos problemas. Quando o tronco for pequeno e estrito, revela vulnerabilidade às complicações. Se houver excesso de folhas, a criança tem grandes ocupações, talvez em excesso. Se houver poucas folhas e galhos a criança está triste.

Casa: Desenho de uma casa grande demonstra grande emotividade, já uma casa pequena demonstra retraimento.

Barco: Significa que a criança adapta-se facilmente a imprevistos. Barco grande revela que não gosta de mudanças e aprecia ter controle da situação, se o barco for pequeno demonstra ser sensível e ter grande intuição.

Flores: desenhar flores significa que a criança é alegre e feliz.

ATIVIDADES DE GRAFISMOS


ATIVIDADES DE GRAFISMOS





















Conteúdos dessa postagem: atividades de grafomotricidade, coordenação visomotora

ATIVIDADES PARA DESENVOLVER COORDENAÇÃO MOTORA


ATIVIDADES PARA DESENVOLVER COORDENAÇÃO MOTORA

A escola deve estimular outras buscas, novos conhecimentos dando ênfase em outros sentidos do prazer, através de um trabalho multidisciplinar e transversal. Os docentes podem desenvolveratividades voltadas ao desenvolvimento da coordenação motora, pois estas proporcionam um leque de idéias importantes que propiciam aos alunos estabelecer relações e vinculações entre os mais diferentes conteúdos apresentados pelas diversas disciplinas escolares.
No entanto, isto depende de uma formação continuada dos professores. O professor da educação infantil precisa compreender que o processo de desenvolvimento  da coordenação motora da criança abrange vários fatores que são claramente percebidos e sentidos podem nos aspectos orgânico, psicológico, cognitivo e social. Os mesmos mais cedo ou mais tarde podem interferir de alguma forma no processo ensino-aprendizagem.























Conteúdos a serem desenvolvidos a partir dessas atividades: coordenação motora fina coordenação viso-motora desenvolvimento do raciocínio estímulo visuale muito mais.

Grafismo infantil: linguagem do desenho


Grafismo infantil: linguagem do desenho
Silvia Sell Duarte Pillotto
*
Maryahn Koehler Silva
**
Letícia T. Mognol
***
RESUMO:  O estudo ora apresentado tem como pressuposto básico
que rabiscar, desenhar e escrever não são simples atos mecânicos, ao
acaso. Cada gesto e movimento têm significações simbólicas, capazes
de contribuir para o desenvolvimento humano. Referimo-nos ao
grafismo infantil, pesquisado, analisado e interpretado por teóricos da
psicologia, da arte e da educação. Dessa forma, nosso objetivo é
possibilitar o diálogo entre os vários pontos de vista de alguns dos
pesquisadores dessa área, a fim de suscitar reflexões de psicólogos,
educadores, pais e mães sobre o grafismo infantil como meio de
linguagem da criança.
PALAVRAS-CHAVE: Grafismo. Processos de criação. Criança.
Simbolismo.
Childrens’ Drawing: the Language of Drawing
ABSTRACT:  The basic assumption of this study is that sketching,
drawing and writing are not simple,  mechanical random acts. Each
gesture and movement has symbolic meanings that contribute to
human development. We refer to childrens’ drawings, that are studied,
analyzed and interpreted by theoreticians of psychology, art and
education. In this way, our objective is to establish a dialog between
the various points of view of some of the researchers in this field, in
order to present some reflections from psychologists, educators,
fathers and mothers about childrens’ drawing as a media of children’s
language.
KEY WORDS: Drawing. Creation processes. Child. Symbolism
A representação gráfica infantil, pesquisada por teóricos da psicologia, da arte
e da educação, tem sido alvo de polêmicas e discussões nos mais variados contextos –
nas escolas, nas universidades, nas famílias, nos consultórios de psicologia e
psicopedagogia, entre outros.
A reflexão gira em torno de como melhor compreender a criança através de um
de seus meios mais expressivos - o desenho.
                                               
*
 Professora dos cursos de Artes Visuais e Pedagogia da Universidade da Região de Joinville –
UNIVILLE e coordenadora do Núcleo de Pesquisa em Arte na Educação - NUPAE. Doutora em
Engenharia da Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.  E-mail:
spillotto@univille.edu.br
**
 Professora no curso de Pedagogia, Designer e Administração na UNIVILLE, pesquisadora do NUPAE.
Mestre em Educação pela Universidade da Região de Blumenau – FURB. E-mail –
maryahnk@terra.com.br
***
 Professora no curso de Artes Visuais na UNIVILLE e pesquisadora do NUPAE. Mestranda em
Educação pela Universidade do Vale de Itajaí – UNIVALI. E-mail: mognol@terra.com.br No entanto, mesmo com os inúmeros estudos sobre essa questão, realizados por
teóricos como Read (1958), Lowenfeld (1977) e Dewey (1934), entre outros, na maioria
das vezes, a criança não é respeitada nas suas especificidades e na sua forma própria de
perceber o mundo. Fazem-se prementes, portanto, pesquisas sobre a produção gráfica da
criança, uma vez que esse meio de expressão é, para ela, um dos mais significativos,
envolvendo o seu mundo real e imaginário. O mundo real construído e apropriado pela
observação e imitação de seus pares, e o imaginário, aquele que ela constrói a partir da
sua absorção da realidade. Quando a criança brinca, e nesse ato representa situações e
personagens do mundo adulto, ela apreende o mundo, manifestando-se simbolicamente.
Rabiscar, desenhar e escrever são formas construídas pelo ser humano, ao
longo dos anos, para manifestar-se expressivamente e comunicar-se, objetiva e
subjetivamente.
Para a criança, entretanto, a intenção de transmitir algo a alguém nem sempre
está presente, uma vez que, ao desenvolver suas capacidades sensoriais e motoras, ela
descobre no lápis, no giz, na tinta ou em qualquer outro objeto que tenha estas
propriedades, a possibilidade de deixar as suas marcas.
Com o passar do tempo, essas marcas passam a ter uma intenção, ou seja, a
criança passa a ter necessidade de ser compreendida pelo grupo do qual faz parte.
Deixar mensagens é primordial desde épocas remotas, pois os seres humanos sempre
procuraram deixar registrada a sua história, simbolizando seus desejos, conflitos e
pensamentos aos outros da sua espécie.  
A criança também utiliza o desenho para comunicar-se. Através dele, transmite
a sua experiência subjetiva e o que está ativo em sua mente, registrando aquilo que é
significativo para ela. Todo ser humano externaliza seus conflitos, suas emoções, entre
tantos outros sentimentos, de uma maneira particular. Essas expressões podem ser
percebidas através da leitura dos desenhos infantis que, quando analisados sob critérios
profissionais, possibilitam a compreensão das relações existentes no contexto infantil,
pois suas produções materializam dados reais e subjetivos.
Nesse sentido, é possível nos remetermos ao contexto da educação infantil,
espaço entendido por nós como possibilidade  de apropriação das  linguagens (visual,
sonora, corporal) e manifestações expressivas.
No contexto da educação infantil, o educador que percebe a criança como um
ser em desenvolvimento e transformação  pode contribuir significativamente no seu
processo de desenvolvimento, uma vez que compreende a criança em seu tempo
histórico, respeitando as suas várias formas de manifestações expressivas. Autores como Lowenfeld (1977) e Novaes (1972) trazem em seus estudos a
reflexão sobre a relevância de pais e educadores compreenderem as fases e
transformações do grafismo infantil a fim de contribuírem nos processos de criação da
criança.
Lowenfeld (1977, p. 53) a respeito das fases do desenvolvimento infantil,
afirma que “o conhecimento das mudanças, nos trabalhos que aparecem em vários
níveis de desenvolvimento e das relações  subjetivas entre a criança e seu meio, é
necessário ao entendimento da evolução das atividades criadoras”.
Novaes (1972) considera que o ser humano cria, quando expressa novas formas
existenciais, tanto para ele como para o mundo. Em se tratando da criança, isso se
observa no momento em que ela ultrapassa o ato de rabiscar, substituindo-o por outros
grafismos que ampliam significados, culminando na comunicação com outras pessoas
em seu entorno.  
Para a autora, todas as crianças são únicas nas suas formas de percepção e
expressão, nas suas experiências de vida e nas suas fantasias. A variação do potencial
criador dependerá das oportunidades que terão para expressá-lo. Toda criança é capaz
de criar, basta dar-lhe oportunidades para que isso aconteça. A liberdade de ação, no
que concerne à busca da expressão através do desenho, favorece os processos de criação
do ser humano.
Ao rabiscar, a criança desenvolve seus processos criativos, ampliando suas
potencialidades de expressão. Nessa perspectiva, May (1982, p. 116) afirma que o ato
criativo tem origem “na luta do ser humano contra e com aquilo que o limita”. O autor
observa dois fatores presentes no ato criativo: o primeiro refere-se à natureza do
encontro, e o segundo, à intensidade do encontro. O encontro pode ser com um objeto
real, com uma idéia, uma visão interior,  assim como pode também ser envolto em
esforço, voluntário ou não. Afirma, ainda, que cada pessoa passa por uma situação de
encontro com o objeto, que pode ser algo que está procurando, ou que simplesmente lhe
tenha chamado a atenção, mas, com certeza, é tomada por emoções.
Desta forma, é possível identificar  as emoções em qualquer período de
desenvolvimento humano, embora a capacidade simbólica surja apenas em torno dos
dois anos de idade. A criança, nessa fase, tem necessidade de comunicar-se com outros
e, também, consigo mesma. Os significantes construídos e atribuídos pela criança
através do objeto e do seu entorno, modificam-se de acordo com a sua faixa etária, uma
vez que, gradativa e continuamente, ela passa a ter consciência reflexiva, da qual já é
dotada.   Através da capacidade simbólica, a criança potencializa a sua capacidade de
criar. A internalização de símbolos permite-lhe a transposição de uma situação à outra,
de um objeto a outro; permite à criança imaginar-se numa posição diferente da qual se
encontra para resolver algum problema.
Percebe-se o movimento contínuo da criança nas suas ações, a medida em que
ela vai atribuindo funções a objetos ou reproduzindo situações nas quais os objetos não
se fazem presentes. Essas situações estimulam os seus potenciais criativos, permitemlhe liberdade de escolha e a transposição do tempo/espaço real.
         
A passagem da atividade motora para a simbolização ocorre quando a
criança, pela primeira vez, produz uma forma que ela interpreta como
semelhante a algum objeto do seu meio (na maioria dos casos, a
primeira forma simbólica é a figura humana). À medida que tais
marcas se tornam simbólicas, a criança começa a construir círculos,
retângulos, triângulos, etc. e a combiná-los em padrões mais
complexos, estabelecendo um vocabulário de linhas e formas que são
as bases da construção da linguagem gráfica. A partir de então, a
criança cria esquemas, padrões  fixos, para objetos e constrói
estratégias gráficas para explorar as possibilidades espaciais
oferecidas pelo papel. Entre 5 e  7 anos, as crianças desenham com
notável expressividade, organização e prazer. Há uma necessidade
afetiva de expressar-se num domínio simbólico, buscando entender o
mundo e elaborar sentimentos em relação a temas que lhe são caros.
(PILLAR, 1996, p. 52).
Os símbolos representam o mundo a  partir das relações que a criança
estabelece com as pessoas que fazem parte do seu contexto social e cultural, e consigo
mesma. A sua imaginação desenha objetos significativos, sejam eles reais ou frutos da
sua fantasia, expressando uma grande gama de emoção, criação e significados.
A linguagem do desenho permite às crianças inventarem e experimentarem
suas idéias, suas ações, seus desejos e seus sentimentos expressos de formas variadas,
deixando transparecer as suas emoções e o seu imaginário.
 Lowenfeld (1977, p. 51) afirma que: “[...] através da compreensão da forma,
como o jovem desenha, e dos métodos que usa para retratar seu meio, podemos penetrar
em seu comportamento e desenvolver a apreciação dos vários complexos modos como
ele cresce e se desenvolve”.
Sobre os diferentes estágios do desenvolvimento gráfico, o autor considera
difícil perceber onde uma etapa termina e a outra tem início, já que o desenvolvimento
desse processo é contínuo. Também as diferenças individuais da criança devem ser
levadas em conta, isto é, nem todas passam de uma fase para outra na mesma época e da
mesma forma. Referindo-se às fases do desenvolvimento, Lowenfeld (1977) denomina a
primeira como Estágio das Garatujas, que acontece por volta dos dois aos quatro anos
de idade. Nesta etapa, a criança faz rabiscos desordenados, ao acaso. A organização e o
controle do traçado são percebidos aos poucos por ela, havendo uma evolução gradativa
que vai dos riscos às formas controladas. Nesse estágio, a criança passa por várias fases
de desenvolvimento, explorando seu corpo e espaço.
A segunda etapa,  Estágio Pré-Esquemático, tem início por volta dos quatro
anos e estende-se até sete, aproximadamente. Apresenta as primeiras tentativas de
representação do real. A criança desenvolve  a consciência da forma e transmite isso
pelas imagens dos seus desenhos, embora as figuras ou objetos apareçam, ainda, de
forma desordenada, podendo haver variações consideráveis nos seus tamanhos.
O Estágio Esquemático começa por volta dos sete anos, estendendo-se até os
nove. Nesse estágio, a criança desenvolve o conceito da forma e seus desenhos
simbolizam o que pertence ao seu meio, de maneira descritiva.
[...] é neste período que aparece uma interessante característica dos
desenhos infantis: a criança dispõe os objetos que está retratando
numa linha reta, em toda a largura  da margem inferior da folha de
papel. Assim, por exemplo, a casa é seguida de uma árvore, à qual se
segue uma flor que fica ao lado da pessoa que poderá ficar antes de
um cão, que é a figura final do desenho.      (LOWENFELD,1977,
p. 55).
Figura 1 - Produção infantil de Luísa Mognol – 6 anos
O  Estágio do Realismo perfaz um caminho dos nove aos doze anos,
aproximadamente. Ainda existe muita simbolização nos desenhos, mas a criança tem
maior consciência a seu respeito, projetando-os em suas produções. Se, antes, ela tinha
prazer em realizar desenhos livres, mostrá-los e explicá-los aos outros, nesse estágio, prefere ocultá-los da observação dos adultos, justamente pela consciência que tem de si
e do seu ambiente natural, gerando uma autocrítica que não se manifestava antes.
Luquet (1969) foi um dos primeiros estudiosos sobre o desenho da criança do
ponto de vista de sua evolução cognitiva, procurando compreender o que e como a
criança desenha. A partir dessas concepções, Pillar (1996, p. 40) afirma que “o desenho
é a reprodução de um modelo interno que a criança possui do objeto”. Ao utilizar a
expressão “modelo interno”, busca fazer referência à realidade psíquica que existe no
pensamento da criança, o que, por sua vez, dá origem ao ato criador, pois o ser humano
possui uma representação mental do objeto e uma maneira de representá-lo através de
desenhos.
Os quatro estágios do desenvolvimento  gráfico, definidos por Luquet (1969),
podem contribuir para a compreensão do educador e da família sobre os processos de
desenvolvimento da criança. O primeiro é denominado de realismo fortuito, estágio esse
que tem início por volta dos dois anos  e subdivide-se em desenho involuntário e
voluntário. No primeiro, a criança desenha linhas, uma vez que ainda não tem
consciência de que o conjunto delas passa a representar objetos e não atribui significado
a seus grafismos, mas o faz pelo prazer em repetir os gestos em função da atividade
motora adquirida. No segundo, a criança  desenha sem intenção, porém, percebe
semelhanças entre seus traçados e um objeto real, considerando-o de acordo com sua
semelhança. Em seguida surge a intenção, o desejo consciente de desenhar alguma
coisa. Entretanto, a interpretação do desenho para a criança pode modificar-se de acordo
com os significantes atribuídos por ela.
O segundo estágio denomina-se de realismo falhado ou incapacidade sintética
– nesse estágio a criança se preocupa em representar cada objeto de forma diferenciada,
não integra o que desenha num conjunto coerente e exagera ou omite partes, por
considerar, apenas, o seu ponto de vista. Nessa etapa de vida, “a criança não tem a
simultaneidade das ações em pensamento, ela as considera como independentes umas
das outras, sem estarem coordenadas num todo que as reúna.” (PILLAR, 1996, p. 46).
É possível observar que as ações e os pensamentos da criança não se encontram
coordenados, o que lhe impossibilita agrupar as partes de um desenho.
Mèredieu (1995) refere-se à evolução do espaço, afirmando que não existe
nenhuma constância de grandeza ou tentativa para apresentar a profundidade
(perspectiva) na produção gráfica infantil. Embora exista a compreensão de uma relação
entre os elementos de um desenho, esses são  representados justapostos, ao invés de
coordenados. Esse estágio começa por volta dos 4 anos e tende a estender-se até os 10
ou 12 anos de idade.  O terceiro estágio, chamado de  Realismo intelectual, é a representação dos
objetos pelo conhecimento intelectual. A criança, de forma deliberada e consciente,
procura reproduzir o objeto, representando o que vê e também o que não está presente,
isto é, torna transparentes partes de objetos que, a princípio, estariam encobertos, como
órgãos sob a pele e móveis através da parede.
Outra particularidade desse nível é o  uso de “legendas nos desenhos para
nomear os objetos, o que faz com que o nome passe a ser uma característica essencial
do objeto, tal como as suas partes”. (PILLAR, 1996, p. 49). A criança procura desenhar
a partir da noção que tem do objeto, iniciando a construção das relações projetivas, isto
é, a projeção dos objetos no espaço, dando a noção de diferentes planos e de
profundidade. Observa-se, também, nessa etapa que a criança coordena os objetos no
espaço, considerando suas posições, distâncias e proporções a partir de uma base de
referência.
O quarto e último estágio é denominado de  realismo visual, trata-se da
representação visual que a criança tem do objeto. Diferente da etapa anterior, a criança
representa os elementos visíveis, abandonando a transparência. Pillar (1996, p. 50)
afirma que os objetos passam:
[...] a ser representados com essa nova construção, a perspectiva, e os
detalhes agora têm por finalidade particularizar a formas que antes
eram genéricas. Há, portanto, um aprimoramento do sistema do
desenho construído no realismo intelectual.
Gardner (1999) também apresenta tendência desenvolvimentista, porém não
adota os estágios de Luquet (1969), atendo-se à variedade de símbolos usados pelas
crianças, à investigação de cada linguagem artística, apontando diferenças encontradas
entre elas, assim como à integração dos aspectos cognitivo e afetivo do
desenvolvimento do sujeito humano.
A criança começa a fazer uso dos símbolos por volta dos dois anos de idade, e
entre os dois e cinco anos passa a ter um domínio maior dos sistemas simbólicos;
observa-se, então, que os primeiros desenhos são decorrentes da atividade motora e não
simbólica.
O uso progressivo dos símbolos tem a sua origem em ações significantes, que
se reportam a realidades ausentes. Segundo Rivière (1995), as ações significantes são
formas elaboradas de interação comunicativa, isto é, a criança passa a utilizar palavras
ou gestos como ações simbólicas quando o objeto, ao qual se refere, não está presente.
Outro aspecto apontado pelo autor é o fato de a criança já se comunicar com o
adulto antes de completar um ano de  vida, tendo essa comunicação caráter pré-simbólico, uma vez que o objeto precisa estar presente para ela poder indicar o que
deseja.
A medida em que a criança se desenvolve, os recursos simbólicos tornam-se
mais complexos para ela. Se, no início, necessitava da presença do objeto e era restrita
às percepções e experiências imediatas, com o passar do tempo isso se torna
dispensável; ela passa a representar papéis sociais cada vez mais elaborados e cria
formas diversificadas de lidar com situações presentes ou futuras. Isso também é
percebido no seu desenho, uma vez que ela inicia seus traçados com rabiscos que, aos
poucos, são substituídos por figuras e objetos que denotam uma representação com
contornos mais próximos àquilo que ela percebe.
Perondi (2001, p.175) considera que “os  desenhos podem ser  inspirados por
circunstâncias não previsíveis, porém,  freqüentemente, eles se relacionam por
acontecimentos próximos ou por circunstâncias similares às experiências já vividas.”
A partir do exposto, é fundamental que se compreenda a criança como um ser
pensante, sensível, que constrói, através das suas representações gráficas, um espaço
real e imaginário.
O estudo aqui socializado com a comunidade acadêmica, educadores,
psicólogos e familiares, busca pensar caminhos para a compreensão do ser e estar
criança, em espaço real, no qual se permita a ela pensar e manifestar-se expressivamente
como criança, esse ser que guarda sinais subjetivos inatingíveis da alma humana, sendo
isso o que a torna tão instigante e tão surpreendentemente interessante.
Nessa perspectiva, é fundamental que o adulto perceba e compreenda a criança
como ser humano com características, pensamentos, sentimentos e vontades próprias.
Referências
DEWEY, J. Art as experience. Londres, 1934.
GARDNER, H.  O verdadeiro, o belo e o bom: os princípios básicos para uma nova
educação. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999.
 LUQUET, G. H. O desenho infantil. Porto: Editora do Minho, 1969.
LOWENFELD, V.; BRITTAIN, W. L. Desenvolvimento da capacidade criadora. São
Paulo: Mestre Jou,1977.
MAY, R.  A coragem do ato de criar.  Tradução Aulyde Soares Rodrigues. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1982.
MÈREDIEU, F. O desenho infantil. São Paulo: Cultrix, 1995.
NOVAES, M. H. Psicologia da criatividade. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1972.
PERONDI, D.  Processo de alfabetização e desenvolvimento do grafismo infantil.
Caxias do Sul: EDUCS, 2001. PILLAR, A. D. Desenho e escrita como sistemas de representação. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1996.
READ, H. A educação pela arte. Trad. Ana Maria Rabaça e Luis Filipe Silva Teixeira.
São Paulo : Martins Fontes, 1958.
REVIÈRE, A. Origem e desenvolvimento da função simbólica na criança. In: COLL, C.
Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia evolutiva. Tradução Francisco
Franke Settineri e Marcos A.G. Domingues. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
TELES, M. L. S. Socorro! É proibido brincar! Petrópolis: Vozes, 1999.
Endereço:
Núcleo de Pesquisa em arte na Educação - NUPAE
Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE
Campus Universitário - Bom retiro
Caixa Postal 246
89201-972 -   Joinville - SC
Recebido: fevereiro/ 2004
Aprovado: junho/ 2004

Reinventando os espaços da creche


Reinventando os espaços da creche


Objetivos 
- Conquistar autonomia de forma progressiva em relação a si próprio, aos outros e aos objetos.
- Desenvolver a identidade, reconhecendo limites e capacidades.
- Ter prazer e divertir-se com a vida coletiva na escola.
- Desenvolver a oralidade e a sociabilidade.

Conteúdos 
- Identidade e autonomia.
- Sociabilidade.
- Movimento.

Tempo estimado O ano todo.
Flexibilização
Para crianças com deficiência auditiva
A deficiência auditiva de alguns bebês só é percebida a partir dos 6 meses de vida. Por isso, fique atento aos sinais que a criança pode emitir - como não responder aos seus chamados ou aos chamados dos colegas, nem assustar-se diante de um barulho mais intenso, por exemplo. Caso a perda auditiva da criança não possa ser compensada com a ajuda de aparelhos, tentar oralizá-la não é o melhor caminho. Invista em estímulos visuais (de cores e formas variadas nos cantos da creche); olfativos (com plantas, perfumes e alimentos diferentes) e de movimento (faça com que a criança explore os diferentes espaços organizados). Vale lembrar: quanto antes essa criança puder ser acompanhada por um intérprete de libras, mais cedo ela poderá desenvolver uma forma efetiva de comunicar-se com os demais.

Material necessário 
Móveis da própria sala, tecidos de tamanhos e texturas variados, caixas de papelão, bambolês, brinquedos, livros, revistas, sucatas variadas, bolas e papelões vazados.

Desenvolvimento 
1ª etapa Observe diariamente como as crianças interagem com o ambiente. Que espaços e objetos preferem? Que materiais são mais desafiadores? Que ações executam com brinquedos, livros etc.? Registre suas observações e, com base nelas, planeje intervenções gradativas no espaço permanente da turma.

2ª etapa Organize cantos na sala, nos quais as crianças vão brincar e circular livremente. Use móveis, tecidos e tapetes para fazer uma divisão clara das áreas. O primeiro, com colchões e bolas, pode ser dedicado a brincadeiras corporais. O segundo, ao contato com livros e revistas. Mais um, para o faz de conta com objetos de cozinha e de bebês. Por fim, o canto de explorações (com tecidos de várias texturas, materiais sonoros e itens para desenho) e o das almofadas e dos objetos pessoais. Mostre tudo aos poucos, garantindo que os pequenos possam agir sozinhos ou em grupo.

3ª etapa Monte cabanas em alguns cantos para colaborar com a divisão do espaço e colocar uma limitação física no ambiente. Nelas, as crianças entram e saem, tendo momentos de privacidade e sociabilidade. Aproveite e use a cabana para uma proposta coletiva, convidando as crianças a ouvir uma história ou fazer um desenho coletivo.

4ª etapa
A decisão sobre os materiais oferecidos é fundamental para propiciar desafios. É recomendável ter pequenos espelhos (desenvolvimento da identidade), caixas com objetos sonoros e outros de abrir e fechar (estímulo à exploração), além de pequenas bolas e tecidos grandes para jogar e puxar (promoção da sociabilidade). Variar a quantidade é útil para que os pequenos aprendam a pedir emprestado, a respeitar a vez do amigo e a compartilhar uma ação.

5ª etapa Realize constantes intervenções no espaço. Confeccione tapetes com texturas e caixas com aberturas. Varie as propostas para que os pequenos possam estar em pequenos grupos e com toda a turma. Promova brincadeiras na frente de um espelho com objetos e tecidos. Esteja atento para mediar situações de socialização e possíveis conflitos entre os pequenos.

Avaliação 
Crie situações para observar como cada um se relaciona com espaços, pessoas e objetos. Observe os avanços nas relações de respeito e no uso de estratégias comunicativas (orais ou não verbais), na gradativa superação de desafios corporais e no desenvolvimento da autonomia, tanto nas relações com os outros como no uso de objetos.
Consultoria: Karina Rizek
Coordenadora de projetos da Escola de Educadores e selecionadora do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10.

Exploração de texturas e melecas


Exploração de texturas e melecas

a
Objetivos
- Explorar texturas de tintas e melecas.
- Utilizar diferentes instrumentos para pintura.

Ano
Creche.

Tempo estimado
Durante todo o ano, ao menos uma vez por semana.

Material necessário
Bacias grandes, utensílios de cozinha como coadores, espátulas, colheres, escumadeiras, pratinhos e vasilhas de diferentes tamanhos. Pincéis, brochinhas, rolinhos de pintor, esponjas e suportes grandes, como papéis, tecidos lisos, plásticos e caixas de papelão. Farinha de trigo, gelatina em pó com cores fortes, amido de milho, corante comestível (anilina) e natural, feitos com frutas e geleias, para preparar tintas e massas (para cada xícara de água morna, acrescente uma de amido de milho e um pacote de gelatina. É possível variar a densidade da meleca acrescentando mais água ou mais farinha. Para mudar as cores, acrescente o corante.

Flexibilização
Para alunos com deficiência física
Para trabalhar com bebês com deficiência física nos membros superiores, envolva os rolinhos e os pincéis em espuma. Isso vai ajudar os pequenos a ter mais firmeza na hora de fazer as primeiras pinturas. Você pode fixar papeis em pranchetas inclinadas e colocar em frente ao bebê ou fazer com que a criança crie suas próprias estratégias para pintar nos papeis fixados no chão. Estimule que ela pinte com os pés junto dos colegas e deixe as tintas em lugares acessíveis e próximos da criança com deficiência. Os outros bebês também ajudam a criança a segurar alguns objetos ou alcançar os potes de tinta.

Desenvolvimento
1ª etapa
As experimentações com as tintas podem ocorrer na sala, em uma oficina de artes ou em espaços externos. Monte o local deixando à mão tudo o que será necessário para o andamento da proposta, pois assim você pode ficar mais atento às crianças e suas explorações. Forre o piso (se estiver num espaço de uso coletivo ou sala) e ofereça papéis no chão, na mesinha ou na parede para que deixem marcas. Coloque o material ao alcance de todos e deixe as crianças de fraldas ou roupas que possam sujar. Planeje também como será a arrumação ao fim da atividade: onde serão colocadas as produções? Quem ajudará na limpeza e no atendimento às crianças? Quem documentará a atividade? Planeje como mostrar os primeiros resultados da atividade, incluindo as fotos, às famílias. Assim, todos poderão participar, mesmo que indiretamente.

2ª etapa
Apresente os materiais aos bebês. É importante que eles diferenciem os momentos de trabalho daqueles de alimentação. Por isso, não os incentive a comer durante as atividades, mesmo que os materiais sejam comestíveis. Mostre o que poderão fazer com as tintas. Inicie utilizando apenas água e depois amplie para misturas e melecas, como massas de amido ou farinha com corantes ou gelatinas. Ao acrescentar uma cor forte, pergunte: "Estão vendo como a cor mudou?" Para os mais crescidos, é possível introduzir terra, areia, folhas e sementes. Se fizer uma tinta de gelatina, por exemplo, deixe que cheirem, toquem e brinquem. É importante que eles se familiarizem com os materiais de apoio antes de a atividade começar - uma bacia pode ser tão interessante quanto seu conteúdo. O foco da atividade, porém, deve ser exploração de texturas.

3ª etapa
Convide o grupo a explorar as propriedades e possibilidades dos materiais. É possível organizar, por exemplo, uma atividade para explorar texturas de determinado material ou então uma para que os pequenos utilizem mais um tipo de instrumento, como o pincel, a brochinha e o rolinho de pintor. Nesse momento, diga: "Veja como com o rolinho você pinta uma área maior. Com o pincel, só dá para fazer um risco". Vale testar também as diferenças entre pintar com as mãos, que dá mais controle, ou com os pés, com pincéis e rolinhos, que tendem a ser mais difíceis de controlar.

Avaliação
Observe atentamente durante todo o processo. Isso dará indícios de como propor as próximas atividades. Em alguns casos, vale fazer pautas de observação individual, pois cada criança pode apresentar formas muito distintas de aproximação dos materiais: algumas se lambuzam logo no primeiro dia e aos poucos vão se concentrando em explorações mais definidas. Outras demoram mais tempo para se soltar e há ainda as que insistem em pesquisas específicas de cores, misturas ou ocupação dos suportes etc. No dia seguinte ao trabalho, retome com o processo documentado, conversando com todos para ver se lembram quais os materiais e utensílios foram usados em cada atividade.
Consultoria: Daniela Pannuti
Orientadora pedagógica do Colégio Vera Cruz, em São Paulo.

RISCOS E RABISCOS: TRAÇOS E TRILHAS DO DESENHO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

RISCOS E RABISCOS: TRAÇOS E TRILHAS DO
DESENHO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

1 Introdução

O presente trabalho vem colocar em pauta um assunto de suma importância para os profissionais da educação, e principalmente para os educadores da Educação Infantil. Trata-se dos "Riscos e rabiscos no desenho da Educação Infantil". Vem ressaltar, o quanto o desenho libera e exercita a imaginação das crianças.
Ao desenhar a criança "materializa" sua imaginação, criando outras realidades. Baseando nesta consideração, o presente trabalho, busca ressaltar o grafismo, não como um conjunto de rabiscos ou desenhos desprovidos de significações e, sim, como uma representação simbólica que a criança manifesta de sua visão de mundo, inserida num contexto sociocultural.
Discutiremos as possíveis, reais e necessárias formas de intervenção pedagógica manifestadas pelas ações do professor. Interventor esse, no processo educativo, no sentido de ampliar o olhar da criança, provocando a fantasia e a criação, apropriar-se do desenho como linguagem, como produção cultural, de oportunizar a criação de contextos significativos de aprendizagem que considerem o desenho como espaço de jogo, como espaço problematizador, provocativo e desafiador, que possibilitará transformar a imobilidade do olhar na plasticidade do ver.
O trabalho escrito entende que a linguagem pictórica (desenhos), proporciona uma aprendizagem rica em desafios, respeitando a espontaneidade e a criatividade da criança, favorecendo informações sobre o mundo que a cerca, satisfazendo suas necessidades emocionais, sociais e físicas.
Comumente vinculado à livre forma de expressão, o ato de desenhar é fartamente explorado no contexto escolar, embora o percurso de seu ensino muitas vezes não utilize como prerrogativa seu aspecto de linguagem, que requer um ensino baseado na construção dessa linguagem, especialmente no cenário da Educação Infantil.
Podemos entender o desenho como linguagem, um sistema dinâmico de signos que se relacionam diretamente com o desenvolvimento cultural da criança e que ganham sentido nesse contexto.
Como questões norteadoras deste estudo abordamos as seguintes reflexões:
Como podemos fazer para o professor se instrumentalizar em relação à linguagem pictórica, a fim de se tornar sensível ao mundo gráfico da criança?
Como o desenho pode se vincular à construção de conhecimentos, à aprendizagem?
Objetivamos desse modo, oferecer aos educadores uma visão da importância dos desenhos da criança, para que os mesmos possam se instrumentalizar em relação á linguagem pictórica, a fim de se tornar sensível ao mundo gráfico do educando e especificamente: 
? Esclarecer aos educadores como trabalhar com desenhos, ajudando seus alunos a se expressarem através deste.
? Contribuir de forma significativa para o entendimento do ato de desenhar como atividade sensível e inteligente.
? Despertar na criança, o gosto e o prazer pelo desenho, e ao mesmo tempo, trabalhar a coordenação motora, linguagem e criatividade.
A proposta metodológica vincula-se ao desenvolvimento de um trabalho voltado para os educadores da Educação Infantil, pois vem tratar de um assunto onde alguns educadores, deixam passar despercebido. Enquanto procedimento metodológico utilizamos a pesquisa bibliográfica, de caráter explorativo.
Dividimos nossa equipe, a qual foi atribuída tarefas para cada componente visando á integração do grupo e melhor andamento do projeto.

2 Aportes Teóricos Fundamentais

2.1 Jean Piaget e suas concepções de desenvolvimento

O suíço Jean Piaget (1896-1980) é uma importante referência para entendermos o desenvolvimento e a aprendizagem humana.
Para Piaget os seres humanos passam por uma série de mudanças ordenadas e previsíveis que são: o interacionismo, a idéia de construtivismo seqüencial e os fatores que interferem no desenvolvimento.
Segundo Piaget, a criança é concebida como um ser dinâmico, que a todo o momento interage com a realidade, operando ativamente com objetos e pessoas. Essa interação com o ambiente faz com que construa estruturas mentais e adquira maneiras e fazê-las funcionar. O eixo central, portanto é a interação organismo-meio e essa interação acontece através de dois processos simultâneos: a organização interna e a adaptação ao meio, funções exercidas pelo organismo ao longo da vida.
A adaptação definida por Piaget, como o próprio desenvolvimento da inteligência, ocorre através da assimilação e acomodação. Os esquemas de assimilação vão se modificando, configurando os estágios de desenvolvimento.
Considera, ainda, que o processo de desenvolvimento é influenciado por fatores como: maturação, exercitação, aprendizagem social e equilibração. E é com base nesses pressupostos que a educação deve possibilitar à criança um desenvolvimento amplo e dinâmico desde o período sensório-motor até o operatório abstrato.

2.2 Dois autores interacionistas:

2.2.1 Vygotsky

Dois pesquisadores na área da psicologia que trouxeram grandes contribuições para o desenvolvimento infantil: o russo Lev Vygotsky (1896-1934) e o francês Henri Wallon (1879-1962). Ambos consideram a constituição social do sujeito dentro de uma cultura concreta.
Para Vygotsky, as origens da vida consciente e do pensamento abstrato, deveriam ser procuradas na interação do organismo com as condições de vida social, e nas formas histórico-sociais de vida da espécie humana e não, como muitos acreditavam, no mundo espiritual e sensorial do homem. Deste modo, deve-se procurar analisar o reflexo do mundo interior dos indivíduos, a partir da interação destes sujeitos com a realidade. A origem das mudanças que ocorrem no homem, ao longo do seu desenvolvimento está, segundo seus princípios, na Sociedade, na Cultura e na sua História.
As interações adulto-criança em tarefas culturalmente estruturadas, com seus complexos significativos criam sistemas "partilhados de consciência" culturalmente elaborados e em uma contínua transformação.
Vygotsky afirma que toda função psicológica superior manifesta-se, primeiro, em uma situação interpessoal e depois em uma situação intrapessoal. È na troca com outros sujeitos e consigo próprio que se vão internalizando conhecimentos, papéis e funções sociais, o que permite a constituição de conhecimentos e da própria consciência.
Para entender a relação entre desenvolvimento e aprendizagem, Vygotsky criou o conceito de zona de desenvolvimento proximal. Segundo ele a criança transforma as informações que recebe de acordo com as estratégias e conhecimentos por ela já adquiridos em situações vividas com outros parceiros mais experientes. Através de experiências de aprendizagens compartilhadas, atua-se nesta zona de desenvolvimento proximal, de modo que funções ainda não consolidadas venham a amadurecer.
Desta forma, verificamos o quanto a aprendizagem interativa permite que o desenvolvimento avance. Ressaltando a importância das trocas intrapessoais, na constituição do conhecimento, Vygotsky mostra através do conceito zona de desenvolvimento proximal, o quanto a aprendizagem influencia o desenvolvimento. 

2.2.2 Wallon e a Psicologia Infantil

Wallon, tal como Vygotsky, considerava o desenvolvimento humano como resultante de uma dupla história que envolve as condições de sujeito e suas sucessivas situações nas quais ele se envolve e às quais responde. Wallon realiza um estudo que é centrado na criança contextualizada, onde o ritmo no qual se sucedem as etapas do desenvolvimento descontínuo, marcado por rupturas, retrocessos e reviravoltas, provocando em cada etapa profundas mudanças anteriores.
Segundo Wallon toda pessoa constitui um sistema especifico de trocas com o meio. Tal sistema integra suas ações num processo de equilíbrio funcional que envolve motricidade, afeto e cognição, mas no qual, em cada estágio de desenvolvimento, uma forma particular de ação predomina sobre outras.
Wallon enfatiza o papel no desenvolvimento humano, pois, todo o contato que a criança estabelece com as pessoas que cuidam dela desde o nascimento, é feito de emoções e não apenas cognições, ele baseou suas idéias nos seguintes elementos: afetividade, emoções, movimento e formação do eu.
Para ele a afetividade possui um papel fundamental no desenvolvimento da pessoa, pois é por meio delas que o ser humano demonstra seus desejos e vontades. As transformações fisiológicas da criança revelam importantes traços de caráter e personalidade.
As Emoções é altamente orgânica, ajuda o ser humano a se conhecer. A raiva, o medo, a tristeza, a alegria e os sentimentos mais profundos possuem uma função de grande relevância no relacionamento da criança com o meio.
Os Movimentos- as emoções da organização dos espaços para se movimentarem. Deste modo, a motricidade tem um caráter pedagógico tanto pela qualidade do gesto e do movimento, quanto pela maneira com que ele é representado. A escola ao insistir em manter a criança imobilizada acaba por limitar o fluir de fatores necessários e importantes para o desenvolvimento completo da pessoa. 
A Formação de Eu- a construção do eu depende essencialmente do outro. Com maior destaque de quando a criança começa a vivenciar a "crise de oposição", na qual a negação do outro funciona como uma espécie de instrumento de descoberta de si própria.
Wallon mostra uma nova concepção de motricidade, da emotividade, da inteligência humana e uma maneira original de pensar a Psicologia infantil.

3 O desenho e a individualidade da criança

Desenho como parte da história coletiva e individual do sujeito, remete especialmente a um tempo de descobrimento, á infância. Companheiro de brincadeira da criança dentro e fora da sala de aula, esse componente lúdico de experiências de vida é observado especialmente na fase que acontece o ingresso da criança na escola.
Sabemos que atualmente, graças a teóricos como Piaget, Vigotsky e Wallon, que a criança aprende a partir das múltiplas interações que estabelece com o meio sócio cultural, que a aprendizagem se dá por meio da relação com o outro, que nessa caminhada para o desenvolvimento há sempre um espaço para o imprevisível, o inesperado, a perplexidade e que não existe uma linearidade no desenvolvimento do ser humano. E é participando, ativamente, de uma comunidade educativa, que as crianças possuem a oportunidade de estabelecerem inúmeras trocas com outras crianças, com adultos e com instrumentos culturais como livros, obras de arte, brinquedos e brincadeiras, objetos, a observação do mundo real, etc. Portanto, é a partir de suas relações com o que a criança vai se apropriando das significações socialmente construídas, permitindo que compreenda as formas culturais de se perceber de estruturar a realidade. 
Aprende-se por meio de uma multiplicidade de linguagens. Brincando, falando, escrevendo, lendo, construindo coisas, explorando o mundo, desenhando, se expressando, sensibilizando, imaginando, criando e recriando.
Para os profissionais que trabalham com a Educação Infantil, é importante compreender de que maneira a criança desenvolve cada uma dessas linguagens. E é por meio desse conhecimento que poderemos organizar um trabalho que considere as diferentes maneiras de construir o percurso sócio cultural de cada ser humano.
Como traduzir essas concepções num trabalho cotidiano, dentro de uma sala de aula, de um espaço educacional?
O professor precisa conceber o processo criativo da criança como elemento de cultura, como atividade construída socialmente que oferece a possibilidade de criar e recriar a cada nova produção a realidade que a cerca, devendo colocar as crianças em contato com materiais diversos da cultura contemporânea, com o belo, com a capacidade de apreciar o que se tem para ver o mundo.
Nessa fase, as crianças estão desenvolvendo funções mentais bastante elaboradas, estão ampliando sua visão de mundo, bem como a percepção do cotidiano. Os desenhos carregam uma relação estreita com as emoções mais sinceras, as crianças desenham seus desejos, seus sonhos, seus medos. Fazem de espaço criativo um construir e reconstruir da imaginação e da memória afetiva.
A linguagem plástica vincula-se com a possibilidade de aprender de forma significativa e com acesso á cultura e, portanto com o objetivo maior da Educação Infantil, que é fazer com que a criança possa conhecer o mundo em que vive conhecer a si mesmo e ao outro de maneira ativa, construtiva e baseada nas interações que estabelece com seus pares, com os adultos e com os objetos.
As formas construídas e determinadas individualmente pelas crianças ajudam a estruturar uma identidade bastante peculiar de como cada uma constrói seu grafismo. Ao mesmo tempo em que precisa de referências e orientações, precisa ainda mais de liberdade de ação e reflexão.
Por, isso um ambiente que proporcione desafios a essas mentes criativas é de imenso valor e pode auxiliar a criança nesse percurso, no qual ela se utiliza dos recursos simbólico do meio artístico para construir representações significativas especificas que só a arte é capaz de proporcionar.
A arte trabalhada com crianças visa favorecer o desenvolvimento das capacidades criativas das crianças, trabalhando de forma integrada seu pensamento, sensibilidade, imaginação, percepção, intuição e cognição.
O desenho infantil invade vários campos do conhecimento: mostra conhecimentos matemáticos (simetria, tamanho, quantidade), históricos (arquitetura, noções de tempo, etc.).
Sendo assim, a arte constitui um processo no qual a criança reúne diversos elementos de sua experiência visando formar um novo significado para tudo que vê, sente e observa. A criança aprende, representa e utiliza conhecimento de muitas formas e maneiras.
O professor pode abrir uma serie de diferentes janelas para a criança. Ensinar lembrando sempre que o conhecimento é algo construído e reconstruído no contato com as experiências, com outros espaços, outras pessoas, focalizando seu olhar para o desenho, como uma situação privilegiada de aprendizagem infantil, em que o desenvolvimento pode alcançar níveis cada vez mais complexos de interpretação, decodificação e atuação em seu meio, de apropriação de conhecimento e da construção de seu próprio conhecimento.
Podemos destacar, do ponto de vista do desenvolvimento e da aprendizagem das crianças, inúmeras conquistas e vantagens sociais, cognitivas e afetivas advindas por meio do desenho:
? Desenvolvimento intelectual, afetivo e social;
? Estimulo à exploração do universo imaginário;
? Mobilização para o interesse pelo outro e pela cultura;
? Permissão à criança trabalhar suas percepções sentimentos e pensamentos;
? Possibilidade de comunicação, tanto interpessoal como intrapessoal;
? Capacidade de perceber e significar o mundo que a rodeia;
? Acervo de imagens na memória vai fornecer mais material bruto para a criação;
? Resolução de problemas por meio da imaginação criadora.
Diante de tudo isso que foi exposto até aqui, fica clara a intensa relação que existe entre o desenho e a possibilidade de aprender. A possibilidade de transformar ludicamente, a aprendizagem proporciona às crianças um canal competente e exclusivo para abordar significados importantes e complexos, uma vez que nessa faixa etária a expressão pictórica explica melhor o contexto de cada criança do que a própria linguagem verbal. Daí a importância de oportunizar á criança muitos momentos de expressão nas diferentes linguagens. 

3.1 A criança e o lúdico na linguagem pictórica

Pensar o desenho da criança de zero a seis anos constitui num desafio quando percebemos que muito se tem falado sobre o desenho, mas quase nada com um corte específico em torno do processo da produção das crianças.
Para o desenho ser considerado e percebido de forma séria e particular, é necessário sublinhar que essas crianças, como sujeitos singulares que são contextualizados, possuidores e criadores de histórias e de cultura, com especificidades em relação aos adultos, são, sim hoje, crianças: cidadãos de pouca idade.
Uma nova atitude surge nesse momento dentro do contexto escolar. O professor, atuando como um mediador para o acesso da criança à cultura do grupo ao mesmo tempo em que se constitui num interventor para a interação direta entre a criança e os objetos à sua volta, possibilita um vínculo positivo das crianças com o processo de exploração do mundo, a constituição de sujeitos ativos, formuladores de hipóteses, criativos, transformadores. 
Diante desse olhar e uma atitude em relação à criança, considera-se que aprender é também interagir com uma multiplicidade de linguagens. Palavras, ações, gestos, expressões de afeto por meio do corpo, do desenho, do olhar, tudo isso compõe o dia-a-dia da criança dentro do espaço escolar e também funcionam como referência de constância e continuidade, tornando o espaço educativo compreensível para ela e abrindo caminhos para as descobertas e surpresas e para a manifestação da criança infantil. 
Toda criança em algum momento pede papel e lápis para desenhar. Toda criança desenha. Mesmo que não esteja dotada dos meios necessários para tal, a criança busca outros instrumentos, para deixar, nas superfícies, o registro de suas idéias, suas vontades, suas fantasias e seus gestos: se não tiver papel, pode ser na terra, na parede, nos muros, nos móveis, se não tiver lápis pode serve um giz, uma pedra, cacos de tijolos, carvão, tinta.
O lúdico na linguagem pictórica envolve o expressivo, o sensível, o estético e introduz a criança na esfera do artístico. O resultado dessa atividade expressiva pode variar de rabiscos, bolinhas e manchas disformes, até a identificação de uma casinha, mas dificilmente será uma transposição fiel da realidade, ou seja, o desenho não é uma cópia do real, mas sim uma representação do real. 
O desenho infantil traduz o grau de maturidade da criança, seu equilíbrio emocional e afetivo, seu desenvolvimento motor e cognitivo. Poucos adultos conseguem perceber o quanto o desenho infantil pode ser revelador.
Desenhar só se aprende desenhando. Se por um lado o ato de desenhar é espontâneo e uma necessidade motora, por outro lado são gestos, construídos e imitados de cultura, reelaborados, inventados.
O grafismo é o meio pela qual a criança manifesta sua expressão e visão do mundo, o exercício de uma atividade imaginária, que se relaciona a um processo dinâmico, em que a criança procura representar o que conhece e compreende. Pode ser o desenho infantil um meio de compreensão da realidade, é um valioso instrumento para a construção de conhecimentos, pois mostra um produto resultante da imaginação e atividade criadora da criança.
A escola poderia ser um espaço propício ao afloramento de linguagens: um espaço privilegiado de criação?
Para que se construa um espaço de criação dentro da escola, o professor necessita vivenciar suas próprias descobertas, aventurar-se a aprender sempre, para saber valorizar as criações espontâneas das crianças e ajudá-las a desenvolver conhecimentos que a façam avançar no seu processo de criação. O educador precisa reconhecer a arte, mais especificamente o desenho infantil, como atividade integradora da personalidade da criança, estreitando a relação dela com o seu próprio corpo, suas emoções, conceitos, sua intuição e percepção, pois o ato criador surge essencialmente num processo simbólico e estabelece novas relações com a realidade cognitiva e emocional.
Este é o grande desafio do professor: a clareza da contribuição da arte no processo educativo e criativo, cuja aprendizagem no âmbito prático e reflexivo se dá por meio da articulação dos seguintes aspectos: o fazer artístico, a apreciação e a reflexão. O desenvolvimento da capacidade artística e criativa deve estar apoiado na prática reflexiva das crianças ao aprender, articulada à ação, percepção, sensibilidade, cognição e imaginação.
Quando desenha, a criança se utiliza de imagens que nascem da observação, da memória e da imaginação. Poderíamos relacionar a observação com o presente, a memória com o passado e a imaginação com o futuro.
A criança não esquece nada do que é significativo, assimila tudo o que vê e o que vivência. A vontade de conhecer e aprender impulsiona a assimilação e a retenção das informações. A memória também proporciona o ato criativo, esta resgata lá do "fundo do baú" os pensamentos, que se tornam novos repertórios para novas associações. A memória é aliada a imaginação.
Wallon concebe a imaginação e a sensibilidade como articuladores do conhecimento, por meio dos quais a criança se apropria de experiências e imagens. Segundo o autor, "a fantasia é constituída sempre com material retirado do mundo real, ou seja, a imaginação se encontra em relação direta com a riqueza e a variedade da experiência acumulada diretamente pelo homem. Quanto maior for a experiência do mesmo, maior será as suas possibilidades para imaginar". (1971, p. 18).
No ato de desenhar está subentendido uma conversa entre o pensamento e a ação, entre o que está interno e o que está externo, onde a percepção e a sensibilidade representam as janelas para o mundo. A visão também é uma janela aberta, que permite a transposição entre os fios que articulam o processo criativo: a observação, a memória e a imaginação.

3.2 O desenho e o desenvolvimento da infância

Compreender o percurso expressivo da criança é um trabalho estimulante. As oportunidades oferecidas, as ações educativas intencionais, os valores culturais, a visão processual e orgânica dão um colorido de forma singular nas produções e concepções artísticas das crianças. Todavia, os estudiosos desse desenvolvimento têm percebido que mesmo em cenários e épocas diferentes certas semelhanças mostram aspectos fundamentais que são comuns.
O importante nesse processo é o educador ampliar o olhar para além dos padrões e procurar ver as crianças pelo que elas têm não pelo que lhes falta. Desenhar não é uma tarefa das mais fáceis para as crianças, porque não é um fazer sem conseqüências ou aleatório; mesmo que seja pelo simples prazer do gesto como podemos observar nas primeiras marcas que as crianças deixam no papel.
O trabalho com a linguagem do desenho requer profunda atenção no que se refere ao respeito à individualidade e esquemas de conhecimento próprios a cada criança. O pensamento, a sensibilidade, a imaginação, a percepção e a intuição da criança devem ser trabalhadas de forma integrada, visando favorecer o desenvolvimento das capacidades criativas das crianças.
Por meio dos desenhos a criança não só demonstra seu mundo interior, seus conflitos, seus receios, suas descobertas, suas alegrias, suas tristezas, suas emoções, como os trabalha. No ato de desenhar, pensamento e sentimento estão juntos. O desenho como possibilidade de brincar e de comunicar marca o desenvolvimento da infância.
Percebendo a diversidade de ênfases de várias teorias, tentaremos compor um pano de fundo para nutrir a construção da leitura sobre o ser expressivo da criança, estabelecendo paralelos entre as teorias, sem o pressuposto de enfatizar um ou outro aspecto, sem enfatizar o desenvolvimento do desenho infantil.
O desenho pode ser entendido como um traço, um risco, um rabisco sobre uma superfície. Coisa de lápis e papel. No processo da leitura, com domínio da mão e do olhar, o desenho é expressão e projeto, ou melhor, uma tensão entre os dois termos - risco pensado pela mão tateado pelo pensamento. Começa assim o movimento da ação, pesquisa do exercício.
Quando a criança pega no lápis e descobre seus registros, começa a rabiscar obsessivamente até desgastar toda a ponta do lápis. Sua criação focaliza a própria ação, o exercício, a repetição. A expressividade apresenta num primeiro momento a ação, voltada à pesquisa e ao exercício do ato. Esse período inicial do desenho pode ser definido como uma atividade motora, um jogo de exercício, em que a criança vai expressar gestos motores amplos. 
DERDYK (2004, p. 56) destaca que "permanência da linha no papel se investe de magia e esta estimula sensorialmente a vontade de prolongar este prazer, o que significa uma intensa atividade interna, incalculável por nós adultos".
Com isso, a repetição de gestos ocasiona a produção de diferentes resultados descomprometidos de figuração; no entanto, à medida que a criança faz a associação de gestos e traços, desenvolve sua atividade mental.
Durante o ato de desenhar, as crianças visualizam as formas em meio ao seu rabisco, mostrando a sua própria experiência individual. Desse modo, inserção da mão, olho e cérebro, evidencia a capacidade de imaginar e suas projeções concretizam a maravilhosa experiência de existir.
A criança, vê, sente, escuta, cheira, movimenta-se, pensa, age, expressa-se e desenha com o corpo, sorri e canta com o corpo todo. O corpo é ação, é pensamento.
No momento que se desenha, a criança imprime suas marcas no papel de uma forma espontânea e em diversas direções, isso ocorre porque ele ainda não tem o domínio de proporção sobre o papel. A criança explora livremente o espaço do papel, não por motivos estáticos, mas por prazer cinético (ato de movimentar). Ela descobre que os riscos são feitos por ela própria e começa a se concentrar na atividade com interesse renovado, passando a controlar seus rabiscos. 
A criança não é uma produtora de signos, de forma consciente. Entretanto, como faz parte de um mundo inserido de cultura, convive, sente, reconhece e repete os símbolos do seu entorno, já é leitora e imitadora de símbolos. A imitação é uma forma de importante de aprendizagem.
Assim como imita tudo que vê, e considera interessante, a criança imita a ação adulta de riscar no papel. Seu interesse está no gesto que imita com muito prazer, e não na intenção daquilo que o adulto está fazendo. Imita ação, o agir, o escrever, o desenhar. O importante á a própria ação que imita. 
A repetida exploração e experimentação do movimento ampliam o conhecimento de si própria, do mundo e das ações gráficas. Muito antes de saber representar graficamente o mundo visual, a criança já o reconhece e identifica nele qualidades e funções. É a famosa fase dos rabiscos. Quando bem pequena as crianças desenham e pintam com todo o corpo. Elas vão inteiras, totais, sentindo o material e maravilhando-se com sua produção. Pura magia!
O desenvolvimento progressivo do desenho implica mudanças significativas que, no inicio, dizem respeito à passagem dos rabiscos iniciais para construções cada vez mais ordenadas, fazendo surgir os primeiros símbolos. A função simbólica é o centro do processo de ensino e aprendizagem, seja ela formal ou informal. A criança constrói seus símbolos.
O desenho vai da ação até a representação na medida em que evolui da sua forma de exercício sensório-motor para a sua forma segunda de jogo simbólico. O desenho entra na categoria de jogo simbólico ou imaginário quando permite à criança exprimir um pensamento individual.
O ponto de partida para o desenvolvimento do desenho, da expressividade, do seu fazer artístico, é o ato simbólico que permite reconhecer que os objetos persistem independentes de sua presença física e imediata. Operar no mundo dos símbolos é permanecer e interpretar elementos que se referem a alguma coisa que está fora dos próprios objetos. Os símbolos representam o mundo a partir das relações que a criança estabelece consigo mesma, com as outras pessoas, com a imaginação e com a cultura.
No decorrer da simbolização, a criança incorpora progressivamente regularidades ou códigos de representação das imagens do entorno, passando a considerar a hipótese de que o desenho serve para imprimir o que se vê. Começa, assim, um movimento: ação-pesquisa-exercicio-intenção-simbolo. Surge a intenção de simbolizar no desenho o que deseja. Nesse movimento, a criança preserva a intenção inicial do desenho, após a finalização do desenho. É assim que, por meio do desenho, a criança cria e recria individualmente formas expressivas, integrando percepção, imaginação, reflexão e sensibilidade.
Esse período se caracteriza pelo desenvolvimento da capacidade pelo desenvolvimento da capacidade de representação, em suas diferentes manifestações: a imitação, o brinquedo, a imagem mental, o desenho e a linguagem verbal. São representações sobre representações. Por meio dessas ações e das diferentes formas de linguagem, representa objetos e as ações sobre eles, representando também seus conceitos.
No modo simbólico, a representação centra-se no manejar e constituir o símbolo em si. Não há preocupação com a organização das cenas no papel, seus desenhos parecem soltos no espaço. As cenas se expressam por meio da fala, da historia que a criança conta de seu desenho. Muitas vezes parecem existir dois desenhos, o que está traçado no papel e o que a criança verbaliza. Muitas vezes, a criança chega a movimentar a folha para contar sobre o desenho que realiza. Quanto às cores, também não existe um vinculo com a realidade, elas são utilizadas mais pela aparência visual, não simbólica. A dimensão é afetiva não visual.
Para Vygotsky, a criança é um ser social que interage na complexidade de relações constituidoras de suas funções psicológicas. As crianças estão mais preocupadas com a realidade; são mais simbolistas que realistas e, assim, desenham de memória, mesmo com o objeto a sua frente. A criança desenha pensando e, por isso, suas experiências anteriores têm tanta importância; relacionas as construções imaginativas à quantidade de experiências acumuladas pelo sujeito-criador.
Dessa forma, a imaginação e a realidade cotidiana, mediadas pela linguagem, fundem-se na composição o desenho daquilo que a criança conhece. Os desenhos são, então, signos constituídos pelas interações sociais.
A representação da figura humana cria vínculos de identidade profundos. A necessidade de buscar a si mesmo, definindo a sua imagem e sua figura no mundo, expressa-se na insistência natural que a criança tem de desenhar figuras humanas.
A criança começa a diversificar as formas por meio da diferenciação de tamanho daquilo que entra na composição de seus desenhos, de orientação e de cor, bem como pela inclusão de detalhes, de combinações novas e de ações entre as formas. No modo simbólico de estar no mundo, proporcionamos às crianças a possibilidade de inventar, de construir novas relações, de criar a partir de suas idéias. Há uma ótica pessoal de ver, pensar e sentir o mundo.
Na continuidade da ciranda de construção da linguagem expressiva da criança, os movimentos aprimoram-se para a ação, pesquisa, exercício, interação, símbolo, incluindo nesse momento a organização e a regra. Agora a criança tem a intenção de buscar o que parece verdadeiro, vai ocorrendo cada vez mais a aproximação do real e a preocupação com a semelhança do objeto no seu processo criativo, procurando convenções e regras com certa exigência.
Depois da descoberta e das invenções de seus próprios símbolos, a criança e a expressividade são dominadas pelo desejo de registrar tudo. As respostas gráficas que a criança encontra, a criação de novas relações, são algumas peripécias criativas que a criança vai produzindo para registrar o que vê, intui, imagina e sabe.
A criança passa a explorar expressividade no desenho, começa a criar cenas com os objetos, cria uma ligação entre as formas desenhadas e sua disposição no papel.
É nesse movimento notacional que a criança estrutura o sistema de representação do desenho, diferenciando e coordenando as representações de forma, espaço e cor. Na execução da linguagem pictórica, começa a aparecer o interesse por representar as proporções e as distâncias entre os objetos, a organização das formas criadas em uma cena, ampliando as relações minuciosas para todo o espaço gráfico.
O momento expressivo agora apresenta mais autocrítica na comparação entre o real, a imaginação e a produção. A escolha da cor também obedece à regra e à organização. As imagens devem ter a cor da realidade, e as convenções ditam as regras. Verifica-se também, nesse momento, a incorporação de um intrigante procedimento por parte das crianças: o uso da linha base, ou seja, a criança traça uma linha definindo a base sobre a qual serão apoiados os objetos e figuras do desenho. Ampliam-se as possibilidades de expressão da criança, para interpretar, improvisar e compor sua produção.
O desenho constitui um processo no qual a criança reúne diversos elementos de sua experiência visando formar um novo significado para tudo que vê, sente e observa o que demonstra que a habilidade em desenhar um determinado objeto, dependerá do tempo e da prática que a criança possui em desenhá-lo; logo sua habilidade gráfica geral será ampliada.


Considerações Finais

Pudemos perceber através desta pesquisa a importância do desenho na Educação Infantil.
Através do desenho a criança cria outras realidades e os riscos e rabiscos que muitas vezes passam despercebidos representam a visão do mundo para os pequeninos.
Como educadoras passamos a entender melhor a individualidade de cada criança, respeitando os seus momentos.
















Referências Bibliográficas

DERDICK, Edith. Formas de pensar o desenho. Paulo: Scipione, 2004.
GREIC, Philippe. A criança e seu desenho: O nascimento da arte e da escrita. Porto Alegre: Artmed, 2004.
PILLAR, Analice Dutra. Desenho e construção de conhecimento na criança. Porto Alegre: Artmed, 1996.
MACHADO, Maria Lucia de A. Encontros e desencontros em Educação Infantil. São Paulo: Cortez, 2005.
MERÉDIEU, Florende de. O desenho infantil. São Paulo: Cultrix, 1974.
MOREIRA, Ana Angélica Albano. O espaço do desenho: a educação do educador. São Paulo: Loyila, 1993.

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